Críticas


DIAMANTE DE SANGUE

De: EDWARD ZWICK
Com: LEONARDO DICAPRIO, JENNIFER CONNELLY, DJIMON HOUNSON
09.01.2007
Por Luiz Fernando Gallego
O TESOURO DE SIERRA...LEOA

O que mais pode atrair as platéias de Diamante de Sangue está na ação e tensão dos eventos mostrados. Em alguns aspectos pode até mesmo fazer lembrar clássicos de John Huston com alguns de seus enredos sobre a ambição humana: aventureiros tentavam encontrar relíquias (ainda que macabras), reinos à espera de um homem (que queria ser rei), jóias (com seu segredo) – e principalmente tesouros como o de Sierra Madre. Geralmente tais objetos de desejo não se concretizavam em bem-estar, mas, ao contrário, traziam desgraças e/ou - no mínimo - amargas frustrações. Sem que houvesse moralismo na apresentação de desmandos do desejo que se quer realizar “a qualquer preço”.



A ação permanente, os recursos de produção e o desempenho eficiente do elenco deste filme (com destaque para Djimon Hounson) podem envolver o espectador. Mas fica um mal-estar na mistura de muita violência explícita com uma “mensagem” politicamente correta “denunciando” tanto os horrores da guerra civil em Serra Leoa (um dos menores IDH do mundo), como a indiferença dos países ricos que compram diamantes extraídos à custa de trabalho escravo, mortes, braços decepados e, logicamente, muito sangue. Para a metáfora (?) não ficar muito abstrata, a pedra que dá nome ao filme não é uma referência ampla nem uma generalidade: é mesmo um diamante bruto de tonalidade rosada - como o imaginário “Pink Panther” que deu pretexto à série cômica de Blake Edwards com o personagem do Inspetor Clouseau criado por Peter Sellers.



Mas este filme, com seu tema sanguinário, não era para ter graça nenhuma – ainda que olhe até com alguma simpatia para tudo que o personagem de Leonardo DiCaprio faz. Isto é comentado pela jornalista interpretada por Jennifer Connally: ele é capaz de dizer qualquer coisa para atingir seus objetivos - nada éticos. E o roteiro ainda faz que pretende alguma discussão neste delicado terreno: afinal, o que a jornalista faz, adianta alguma coisa? Serve para mudar a selvageria e barbárie mundiais? Ou apenas expõe horrores nas telas de TVs?



Seria o caso de se perguntar a que serve tanta exposição espetacular de desgraças do pior “mundo cão” neste filme. Não é o caso de se ter uma visão inocente e maniqueísta, supondo que não haveria interesses pecuniários em produções caprichadas como, por exemplo, O Jardineiro Fiel ou mesmo em outros filmes desta verdadeira “onda africana” recente (da qual fariam parte tanto A Intérprete, de Siney Pollack como Hotel Rwanda, de Terry George). Mas a exuberância das cenas chocantes iniciais (e há outras ao longo do filme) deixa uma questão sobre o que pesou mais na concepção de Diamante de Sangue. A impressão que fica é de que sua diretriz, mais do que para filme de aventura à moda antiga, procurou um alto grau de exploração da destrutividade de que o ser humano é capaz. Tenta-se equilibrar isto com outras cenas, como as de conferências internacionais que buscam repudiar bens de consumo (diamantes, no caso) extraídos de forma ilícita por trabalho escravo e/ou por conflitos de sangue. E ainda por cima o mercenário (Leo DiCaprio) ganha consciência da coisa certa a ser feita, com ajuda da bela jornalista americana (Jennifer Connally). Mas não se pode deixar de lembrar o que já foi dito sobre estas empreitadas hollywoodianas, guerras sujas são sempre as dos outros...



Fica a associação de um Jardineiro Fiel com cenas de violência e de muita ação para atingir um público maior do que o que se liga em histórias com roteiros dramáticos e questões éticas e humanitárias. Recentemente, um filme desta “leva africana” nem chegou às nossas salas de cinema, saindo direto em dvd: Na Minha Terra, de John Boorman, com Juliette Binoche e Samul L. Jackson; e incorria em alguns clichês semelhantes, como quando trazia um profissional da mídia de nacionalidade norte-americana como a voz da lucidez e da consciência ética e moral, capaz de corrigir ou melhorar a visão de africanos nativos (mesmo quando brancos). A tentativa de angariar público menos afeito a temas incômodos vinha através de um romance entre Binoche e Jackson, em vez de abusar de cenas apocalípticas deste Diamante de Sangue - que quase retoma a moda de “Rambos” enquanto banca O Jardineiro Fiel. Mesmo assim, a obra de Boorman parece ter intenções mais sérias. E a trilha sonora de música africana era magnífica: não terminava em rap (ou algo parecido) como neste Diamante de Sangue.



De qualquer modo, para o espectador carioca (ou brasileiro) não deixa de ser arrepiante ver a arregimentação de meninos para formarem milícias guerreiras onde fica ausente qualquer noção de empatia ou de identificação com outro ser humano. Lá, numa guerra civil. Aqui, no cotidiano.



# DIAMANTE DE SANGUE (BLOOD DIAMOND)

EUA, 2006

Direção: EDWARD ZWICK

Roteiro: CHARLES LEVITT

Fotografia: EDUARDO SERRA

Montagem: STEVE ROSENBUM

Elenco: LEONARDO DICAPRIO, JENNIFER CONNELLY, DJIMON HOUNSON

Duração: 138 minutos

Site oficial: www.diamantedesangue.com.br

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário