Críticas


PERFUME, O – HISTÓRIA DE UM ASSASSINO

De: TOM TYKWER
Com: BEN WHISHAW, DUSTIN HOFFMAN, ALAN RICKMAN
02.02.2007
Por Luiz Fernando Gallego
UM FRASCO GRANDE DEMAIS

Algumas vezes, uma obra de ficção escrita permite que certas imagens sugeridas pela leitura funcionem melhor na abstração de quem lê do que sua concretização nas artes visuais, já que estas podem dar forma às idéias com tal intensidade que até mesmo empobrecem o que funcionava bem como esboço vago, indefinido, mas por isso mesmo, com maior força para transmitir o essencial “invisível para os olhos” – como reza a repetida frase de Saint-Exupéry. Entretanto, o essencial pode ser atingido por alusões não raramente sutis advindas da criatividade que consegue a transformação de afetos em arte – seja no terreno literário ou no visual.



Apesar da forte proximidade entre o Cinema e os processos oníricos, não é sempre que os filmes se aproximam da força que podem ter nossos sonhos. Muitas tentativas de apresentação de sonhos na tela deram origem a seqüências constrangedoras. Não é sempre que se tem um Luís Buñuel em “linha direta” com o Inconsciente e com o onirismo. No terreno da fábula, o risco de transposição de um texto literário para imagens visuais exige a mesma - ou maior - sensibilidade: o perigo é o simbolismo óbvio que pode levar a resultados banais no terreno do exagero, por mais esforçada que seja a tentativa. Infelizmente, este parece ser o que aconteceu nesta versão de Tom Tykwer para as telas do livro O Perfume – História de um Assassino, de Patick Süskind.



O filme é excessivamente “literário” por querer ser tão fiel ao romance, dando forma a imagens e situações desagradáveis que chegam ao escatológico - e que ficavam mais toleráveis ao serem apenas descritas em palavras - quando podiam causar horror, mas não necessariamente nojo. Quem tinha o livro em boa lembrança pode até questionar o registro satisfatório em que mantinha o romance. Pois esta transposição do enredo original para o cinema acabou por fazer emergir uma narrativa muito carregada de simbolismos e de alusões à psicologia psicopática do personagem principal, um homem que não tem cheiro próprio, mas tem o sentido do olfato acuradíssimo.



O diretor, que chamou a atenção a partir do ritmo acelerado de Corra, Lola Corra, foi hábil ao ralentar o bastante para atender as necessidades do belo roteiro de Paraíso, que Kieslowski morreu sem ter filmado. Só que neste Perfume o ritmo pelo qual optou ficou demasiadamente lento e solene, chegando a uma duração muito além do que seria necessário (150 minutos!).



Aliás, tudo é enfático, começando pela narrativa “interpretada” de John Hurt, narrativa que também se prolonga muito, demonstrando falta de confiança de que as imagens possam dar conta de desenvolver a história – e apesar de ter sido razoavelmente bem sucedida a tentativa de transmitir visualmente o que seria a percepção afiada de tantos odores por parte do personagem. Mas tudo fica grandiloqüente (incluindo, obviamente, a trilha musical), lembrando um perfume “forte”, mas não necessariamente agradável. Talvez o peso do orçamento do “filme alemão mais caro de todos os tempos” tenha interferido no resultado final.



Uma das coisas que escaparam ao elefantismo do filme é o rosto do ator Ben Whishaw, com um semblante “inexpressivo” que fica muito adequado à composição de um ser humano que “não cheira nem fede”, por mais que tenha uma percepção olfativa de bicho – metáfora da frieza de sentimentos de um psicopata assassino. Por outro lado, as presenças de Dustin Hoffman e Alan Rickman oscilam entre a correção básica (no caso de Dustin Hoffman) e a presença apenas burocrática (no caso de Rickman), não acrescentando nada às suas carreiras - que nos acostumaram com sutilezas brilhantes em seus desempenhos, coisa que não ocorre aqui. Rachel Hurd-Wood está muito bonita e a fotografia explora bem seus olhos arregalados como elemento de fascinação que pode acabar sendo um atrativo perigoso.



Dizem que nos pequenos frascos estariam os melhores perfumes. Nesta tentativa de uma embalagem luxuosa e hiperbólica, confirmou-se que mais pode ser menos.



O PERFUME – HISTÓRIA DE UM ASSASSINO (Perfume: The Story of a Murderer)

Alemanha, França, Espanha, 2006 – falado em inglês.

Direção: TOM TYKWER

Roteiro: ANDREW BIRKIN, BERND EICHINGER e TOM TWYKER

Fotografia: FRANK GRIEBE

Montagem: ALEXANDER BERNE

Música: REINHOLD HEIL, JOHNNY KLIMEK e TOM TYKWER

Elenco: BEN WHISHAW, DUSTIN HOFFMAN, ALAN RICKMAN, RACHEL HURD-WOOD

Site oficial: www.perfumemovie.com

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