Críticas


TORRE DAS DONZELAS

De: SUSANNA LIRA
19.09.2019
Por Maria Caú
A reconstrução de um espaço físico como conduíte para a emergência de memórias necessárias em tempos sombrios

A documentarista Susanna Lira não tem medo de lidar com temas extremamente espinhosos, e por isso mesmo urgentes, em títulos como Legítima defesa e Intolerância.doc. Em Torre das donzelas, ela traça um retrato bastante forte e nuançado da ala do presídio Tiradentes em que ficavam confinadas algumas das mulheres guerrilheiras presas pela ditadura militar, a torre que dá nome ao filme. Através de entrevistas bastante marcantes com essas mulheres incríveis, entre elas a ex-presidente Dilma Rousseff, e pontuais encenações muito mais poéticas que propriamente narrativas, Lira recria aquele universo de resistência e sororidade.



O grande trunfo do filme é utilizar uma reconstrução em estúdio da torre, recriada a partir dos relatos e de esboços desenhados por suas antigas ocupantes, como conduíte para as memórias que vão progressivamente vindo à tona sob o olhar do espectador, à medida que essas personagens adentram o espaço. Nesse processo, Lira consegue romper aqueles que são identificados pelas entrevistadas como os grandes artifícios da repressão violenta: o domínio do espaço e do tempo e a imposição do silêncio. O documentário, que ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília, é um filme necessário em tempos em que a memória parece não ser suficiente para conter o retorno da barbárie.



(Texto originalmente publicado quando da cobertura do Festival do Rio 2018)

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