Para quem acompanha o trabalho da diretora Tata Amaral, talvez não haja como evitar uma discreta sensação de frustração diante de Antônia . Não por causa da qualidade deste seu novo filme, mas pela ausência do vigor experimental e da radicalidade presentes em Um Céu de Estrelas e, em certa medida, Através da Janela . A cineasta aposta, desta vez, num formato convencional de roteiro, centrado no fortalecimento, na dissolução e na retomada do grupo formado por Preta, Barbarah, Mayah e Lena (interpretadas, respectivamente, por Negra Li, Leilah Moreno, Quelynah e Cindy). Mas, juízos de valor à parte, Tata não tinha obrigação de continuar seguindo a mesma trilha das produções anteriores e apresenta um saldo satisfatório em Antônia .
Um fator que contribui para o bom resultado é a habilidade de Tata Amaral em expressar na tela grande o seu sólido vínculo com São Paulo. Um Céu... e Através... , apesar de ambientados em espaços internos, tinham suas histórias localizadas, respectivamente, nos bairros da Móoca e do Alto da Lapa. Já em Antônia , que se tornou conhecido do grande público a partir da série de TV, a diretora sai para as ruas de Vila Brasilândia, bairro da periferia (próximo a não tão distante Freguesia do Ó) repleto de ladeiras íngremes, alma deste projeto.
A diretora documenta a região por dentro da estrutura ficcional do filme através de seqüências perfeitamente integradas à história que conta, como a de Preta abrindo a porta de casa e se deparando com a mãe (Sandra de Sá) cantando hinos evangélicos. Uma cena que evoca algo da crueza de Contra Todos , ótimo filme de Roberto Moreira, que assina aqui o roteiro com Tata Amaral. E o carinho da cineasta com a cidade aparece até numa passagem que faz menção ao trânsito difícil de São Paulo.
Os melhores momentos de Antônia são os mais simples: Preta acariciando a filha ou lavando o rosto depois de uma discussão com o marido. E se nos dois longas anteriores Tata contou com uma ótima atuação de Leona Cavalli e uma excepcional de Laura Cardoso, agora extrai desempenhos contagiantes e orgânicos de suas atrizes não-profissionais, mantendo na tela grande um certo tom de improvisação.
# ANTÔNIA
Brasil, 2006
Direção: TATA AMARAL
Roteiro: TATA AMARAL & ROBERTO MOREIRA
Produção: GEÓRGIA COSTA ARAÚJO & TATA AMARAL
Música: BETO VILLARES & PARTEUM
Fotografia: JACOB SARMENTO SOLITRENICK
Elenco: NEGRA LI, LEILAH MORENO, QUELYNAH, CINDY, THAÍDE
Duração: 90 minutos