Críticas


O RELATÓRIO

De: SCOTT Z. BURNS
Com: ADAM DRIVER, ANNETTE BENING, COREY STOLL, JOM HAMM, MICHAEL C. HALL
07.11.2019
Por Luiz Fernando Gallego
Com uma posição política assumida, mas sem proselitismo, preferindo debater ideias e questões sem didatismo excessivo.

Em uma cena que abre o filme e é reproduzida  lá pela metade, um personagem comenta que “o idioma escolhe lado”, o que fica bem evidente quando o termo “Técnica Melhorada de Interrogatório” escolhe o lado de tentar dissimular a prática de tortura.

Seguindo a linha de filmes americanos “de investigação", baseados em acontecimentos jornalísticos, inaugurada com Todos os homens do Presidente” (1976) e que mais recentemente se fez notar em Spotlight (2015) e em The Post: a guerra secreta (2017), e no ótimo Segredos Oficiais, 2019, que estreou no Rio na semana anterior, O Relatório traz uma participação bem menor e episódica da imprensa, privilegiando a figura de Daniel Jones (interpretado por Adam Driver) que trabalhou junto à Senadora Democrata Dianne Feinstein (Annette Bening), investigando a adoção de métodos de tortura pela CIA após o atentado de 11 de setembro (sob a alegação de prevenir outros atentados terroristas).

Dirigido pelo também documentarista, bissexto em longas de ficção, Scott Z. Burns, o filme segue o modelo de se firmar em diálogos que mostram as marchas e contramarchas da investigação. O viés é francamente ligado ao Partido Democrata e chega a mencionar A Hora mais escura, de Kathryn Bigelow, 2012, que também mostrava tortura sem uma posição contrária mais clara.

O filme pode interessar ao espectador brasileiro, não só por abordar eventos americanos menos comentados por aqui, mas porque muitas das atitudes usadas pelos que não querem que o relatório do título venha à tona acontecem também entre nós: Quem invade o computador de quem? Como se preservaria a separação dos poderes numa crise política de maior seriedade? E mais importante de tudo: a tortura é válida por uma boa causa?

O roteiro, do próprio diretor, é bem urdido e o filme consegue prender a atenção com ajuda dos atores, destacando-se Adam Driver numa composição que oscila entre a contenção ferrenha e o limiar da explosão emocional. Quem desconhece os episódios poderá se sentir num filme de suspense.

Se há uma posição política assumida pelo filme, o roteiro escapa do proselitismo, preferindo debater ideias e questões sem didatismo excessivo.

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