Apesar de ter sido a indicação sueca para o Oscar de Melhor Filme Internacional (novo nome da categoria Melhor Filme Estrangeiro), E então nós dançamos se passa inteiramente na Geórgia, e é uma produção sueco-georgiana. Esse fato em si já desperta interesse, uma vez que é raríssimo termos acesso a longas-metragens desse país, e o filme estrear em circuito no Brasil ainda em dezembro é notável. De fato, o longa se centra no cenário do balé georgiano, uma tradição cultural bastante inusitada, já que os homens parecem ter uma posição importante (inclusive com repercussões sociais) no contexto desta dança, papel que, segundo a narrativa, se liga a expectativas de força e masculinidade diametralmente opostas aos estereótipos ocidentais que circundam o universo do balé.
A trama se passa inteiramente em torno de Merab (Levan Gelbakhiani), um jovem pobre que luta para conseguir uma vaga numa prestigiosa trupe de balé georgiano, posto que traria melhores condições de vida para sua família e o permitiria viajar e expandir seus horizontes. Porém, ele terá que lutar pela colocação com os outros membros do corpo de balé da academia onde treina, em especial com um talentoso novo integrante, Irakli (Bachi Valishvili), com o qual começa a criar fortes laços que desembocam numa atração intensa, bastante repudiada pelo contexto social de ambos. A partir desse fio de trama, se desenrolam os conflitos próprios dos filmes de despertar da homossexualidade, sem grandes surpresas ou novas propostas. De fato, a sensação é a de já termos assistido a este filme antes – e algumas vezes.
A obra cresce, no entanto, quando se foca na dança, em cenas lindamente filmadas, esteticamente interessantes, e que dissecam os movimentos precisos, complexos e vigorosos dessas coreografias. Além disso, o filme se justifica em sua cena final, esta sim forte e significativa, remetendo ao belo título.
P.S.: O filme não ficou na lista de dez pré-indicados, dos quais cinco serão de fato concorrentes ao prêmio.