Críticas


LETRA E MÚSICA

De: MARC LAWRENCE
Com: HUGH GRANT, DREW BARRYMORE, HALLEY BENNET
21.03.2007
Por Luiz Fernando Gallego
NOSTALGIA DO DESCARTÁVEL

Dificilmente alguém escapa de uma ligação nostálgica com alguma musiquinha do tipo “chicletes”, mesmo sabendo que é ruinzinha, descartável, pré-fabricada, sem nada a ver com Tom e Vinicius, Cole Porter ou Lennon & McCartney. O link é, geralmente, com um tempo, um período de nossas vidas que a posteriori idealizamos. Mais frequentemente ainda, tendo algo a ver com nossa juventude – mesmo que naquela época nada nos parecesse necessariamente tão maravilhoso. Depois que passa é que a recriamos com o status de “anos dourados”, um passado melhor do que terá sido.



O início da década de 1980 já fez bodas de prata e há muita gente boa entrando na meia-idade que, por incrível que pareça, curte de montão quando alguma daquelas músicas mais insuportáveis de então tocam em uma pista de dança. É assim mesmo: os mais velhos não resistem a um Glenn Miller, a “New York, New York”, ou mesmo a qualquer coisa da “Jovem Guarda” – e quase deslocam os quadris se escutarem Twist and Shout com aquele grupo famoso, The Beatles. Estes saudosistas de antanho estranharão (assim como os mais jovenzinhos de hoje em dia) que pessoas que estariam supostamente em plena maturidade e em posse da chamada idade da razão sejam atraídas por coisas como o clip que é caricaturado (e pensando bem, nos anos ‘80 a coisa já parecia uma caricatura) na abertura de Letra e Música, a nova (?) comédia romântica com Hugh Grant.



Comédias românticas americanas produzidas em série não deixam tantas saudades como as musiquinhas de que estamos falando: a gente esquece esses filmecos - ou só lembra de uma mistureba que é repetida em todos eles - porque quase todos esses são iguais, ou quase iguais. Neste ponto, justiça seja feita, Letra e Música, ainda que siga a fórmula, sem quase nenhuma novidade, dos roteiros padronizados do gênero, traz um “recheio” melhorzinho para a “fôrma”, se comparado à média dos produtos mais recentes da mesma área. Repete a situação batida de um artista com prazo exíguo para cumprir uma tarefa profissional importante, sem que ele esteja inspirado. Uma mocinha, inesperadamente, poderá ser a salvação da pátria (e do orçamento ameaçado do artista). O risco era enorme: o mesmo molde não deu certo nem quando reuniu William Holden e Audrey Hepburn em Quando Paris Alucina, que, por sua vez, já era uma refilmagem.



Mas Music and Lyrics (título original), francamente de olho na bilheteria e lançado no Dia dos Namorados dos EUA (14 de fevereiro), tem algumas piadas boas, outras até mesmo sutis, com fina ironia e inteligentes; faz uma crítica (suave e superficial, é claro) ao mundo musical pop dos anos 80 - e também ao que “acontece” hoje em dia (há uma menção nada disfarçada às Britney Spears, Madonnas e outras tantas similares na personagem de uma cantora de sucesso que “se acha” com sua “sensualidade” e coreografia de bunda - lá, como aqui - semipornográfica e mesclada a espiritualidade, seja lá o que for isso); e, acima de tudo, surpreende a interação simpática de Drew Barrymore com Hugh Grant, sendo que ele ainda demonstra ter desenvolvido a performance corporal de dança exibida antes no papel do primeiro-ministro de Simplesmente Amor. E ainda canta as cançõezinhas-chicletes da trilha sonora como se espera que seu personagem cante, sem ofender os ouvidos.



Sem nenhuma contribuição mais inventiva ao feijão-com-arroz do gênero, o diretor Marc Lawrence também chega a surpreender por não perpetrar mais uma chanchadona como duas que escreveu para Sandra Bullock (ele foi o roteirista, além de produtor dos filmes Miss Simpatia). Esperamos que não nos obrigue a mais uma seqüência da tal Miss.



Diga-se ainda que Letra e Música também tem suas ceninhas menos “inspiradas”, rotineiras, previsíveis ou mesmo dispensáveis - ainda que no todo o ritmo do filme não chegue a desandar. Nem sua metragem se alonga além do necessário e suficiente para uma distraçãozinha inconseqüente e sem maiores contra-indicações. A não ser que você odeie Hugh Grant - ainda mais se ele demonstra algum upgrade em seu papel de sempre, e agora, já aceitando as rugas; ou não suporte Drew Barrymore. Evite no caso de não tolerar comediotas “românticas”, mas – principalmente – se não tiver em seu currículo íntimo uma quedinha por alguma canção brega e boba do seu passado quando era um pouco (ou muito) mais jovem.





# LETRA E MÚSICA (MUSIC AND LYRICS)

EUA, 2007

Direção e Roteiro: MARC LAWRENCE

Fotografia: XAVIER PÉREZ GROBET

Montagem: SUSAN E. MORSE

Música: ADAM SCHLESINGER

Elenco: HUGH GRANT, DREW BARRYMORE, HALLEY BENNET

Duração: 96 minutos

Site oficial: clique aqui

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