Poucos filmes israelenses chegam às nossas telas. Um deles (Delicada Relação, 2002) tratava de homossexualismo entre dois soldados. Este Uma Juventude como Nenhuma Outra, premiado no Festival de Berlim de 2006, aborda o serviço militar feminino obrigatório. Não dá para superestimar uma amostra tão pequena, mas não deixa de ser curioso que cheguem até nós justamente dois filmes que questionam regras militares - logo em um país tão militarizado.
Com a grande vantagem de não evidenciar intenções proselitistas no campo do feminismo tal como o (fraquíssimo) filme mais antigo pretendia com os relacionamentos homoeróticos, o resultado da parceria das diretoras Vardit Bilur e Dalia Hagar consegue interessar por escolher o ângulo da inexperiência de jovens de 18 anos que contrariam o título brasileiro, copiado do francês, Une Jeunesse comme aucune autre. Mirit e Smadar são moças como a enorme maioria em diversos países - com a diferença que, mal saindo da adolescência, têm que cumprir tarefas militares em uma cidade dominada pelo medo do terrorismo, mostrando-se constrangidas com a tarefa de pedir documentos a todos os árabes que encontram pelas ruas, em coletivos, em lugares públicos em geral – além de, sendo mulheres, destinadas a proceder a revistas íntimas nas mulheres árabes cobertas da cabeça aos pés.
O filme mostra que várias dessas jovens podem se sentir incomodadas com a tarefa um tanto burocratizada e com ar de inutilidade - tal o modo insidioso e oculto como o terrorismo atinge seus intentos. Por outro lado, já que o terror se faz presente, como fazer para tentar evitar as explosões que matam? O filme não pretende responder a essas questões, estando bem mais interessado em mostrar que mocinhas desta idade, mesmo com temperamentos muito diferentes, talvez não sejam as pessoas mais indicadas em tentativas tão frágeis de inibir o terror. Disciplina rígida, horários estritos, relatórios de final de expediente – enfim, tudo aquilo que costuma ser estranho para os jovens acaba soando mesmo tão inadequado para o espectador quanto para muitas delas, interessadas em paqueras, homens bonitos, dançar, comprar adereços. A tensão permanente está no ar, mas a cabeça jovem parece resistir, negando a gravidade da situação política para viverem uma breve juventude como todas as outras – ou, pelo menos, como a grande maioria das cabeças de 17, 18 anos.
O roteiro acerta em mostrar, inclusive, uma moça mais conformista, Mirit, preocupada em cumprir de modo submisso o que lhe é exigido – mesmo que insatisfeita. O confronto se dá com sua parceira de ronda pelas ruas, Smadar, de espírito rebelde e transgressor, participante de uma espécie de “rede” de celulares pelos quais as duplas advertem umas às outras da passagem da fiscalização das comandantes - tal como em uma sala de aula de adolescentes haveria o aviso de que “o inspetor vem aí!” para todos voltarem aos seus lugares e suspenderem a bagunça.
O desempenho das jovens atrizes é fundamental para a empatia que o filme desperta, mas todo o elenco se mostra bem adequado. O filme busca a aparência de uma narrativa semidocumental e se beneficia da edição ágil, da câmera fluente e da fotografia aparentemente despojada, mas com variações sutis de tom, de acordo com os diferentes momentos do que está sendo mostrado.
# UMA JUVENTUDE COMO NENHUMA OUTRA (KAROV LA BAYIT)
ISRAEL, 2005
Direção e Roteiro: VARDIT BILU e DALIA HAGAR
Fotografia: YARON SCHARF
Montagem: JOEL ALEXIS
Música: JONATHAN BAR-GIORA
Elenco: NAAMA SHENDAR, SMADAR SAYAR, IRIT SUKI, SHARON RAGINIANO, LANA ETTINGER, DANNY GEVA, SANDRA SCHONWALD
Duração: 90 minutos
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