Não é para levar nem um pouco a sério - nem perder muito tempo com - Eu os Declaro Marido... e Larry, a mais recente idiotice protagonizada por Adam Sandler, nome de bilheteria que até já arriscou filmes com roteiros de mais neurônios - como foram, por exemplo, os dirigidos por Paul Thomas Anderson (Embriagado de Amor, bem legal) e James L. Brooks (Espanglês, nem tão bom, mas uma obra-prima perto do presente bestialógico).
O problema maior é que este filme atual parece pretender ser politicamente correto e estar investindo contra os preconceitos machistas a respeito de homossexuais. Mas o que quer mesmo é fazer rir com piadas grosseiras e escatológicas, mantendo, no final das contas, uma certa aura para a supremacia heterossexual com base no comportamento “garanhão” do personagem de Sandler (também produtor desta coisa), ator cujo sucesso retrata bem o gosto médio americano do norte, explorando sua cara plácida de bobo alegre cheio de dentes em quase permanente sorriso estereotipado.
Não dá para acreditar que o roteiro foi trabalhado por dez anos como consta: todas as “viradinhas” dos manuais de roteiro de filmes americanos são evidentes, facilmente visíveis e previsíveis; nem que tenha sido escrito pelos mesmos escritores do mais delicado – ainda que superestimado - Sideways. As incongruências do desenvolvimento (?) do enredo não merecem maior discussão, tal a posição em-cima-do-muro da trama (?) que parece querer agradar a todas as platéias (gays, heteros, preconceituosos ou não) com direito a uma constrangedora “mensagem” moralista contra a mentira e a homofobia no final.
A isto se soma uma direção (?) mais anódina do que rotineira e preguiçosa, assim como uma abissal falta de graça da enorme maioria das situações (a platéia mal dá umas duas risadinhas bem mornas). O resultado indigesto acaba fazendo deste filme (?) uma das cretinices mais cínicas da produção estereotipada recente de Hollywood. A única coisa que pode fazer a gente não sair no meio deste mar de imbecilidades é a figura de Jessica Biel - que está deslumbrante para olhos masculinos, ainda que sua personagem seja tão idiota como todo o filme. Para gays, o filme deve soar mais ofensivo do que simpático à causa. Para os que querem rir, uma advertência séria: é uma comédia de pouca ou nenhuma graça, ofensiva, mais que tudo, à inteligência de qualquer espectador com neurônios em atividade. O título brasileiro acompanha a ambigüidade do filme: por que não foi chamado mais explicitamente de “Eu os declaro marido e marido”?
# EU OS DECLARO MARIDO E... LARRY (I NOW PRONOUNCE YOU CHUCK AND LARRY)
EUA, 2007
Direção: DENNIS DUGAN
Roteiro: ALEXANDER PAYNE, JIM TAYLOR e BARRY FANARO
Fotografia: DEAN SEMLER
Montagem: JEFF GOURSON
Música: RUPERT GREGSON-WILLIAMS
Elenco: ADAM SANDLER, KEVIN JAMES, JESICA BIEL, DAN AYKROD, VING RHAMES, STEVE BUSCEMI
Duração: 110 minutos
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