Um cineasta (François) seleciona atrizes para um filme sobre o prazer feminino. Não devem ser experientes em filmes pornográficos: ele espera que tenham a sensação de transgressão, coisa que não existiria para atrizes habituadas a cenas pornôs.
As moças ficam fascinadas pela atitude passiva do diretor: ele não se aproveita da intimidade nos testes (somente ele e a candidata ao papel) embora chegue em casa muito excitado, procurando sua esposa com vigor sexual renovado. Ele poderia estar fazendo o papel de um psicanalista não-interferente, aberto às transferências eróticas das mulheres, sem partir para a prática sexual com elas. Elas se excitam imaginando-o excitado. Por outro lado, o que é estimulado é a relação sexual entre moças que não seriam lésbicas. As cenas são todas de soft pornô, entre elas algumas nem tão soft.
Paralelamente, dois anjos caídos (?) femininos acompanham e induzem algumas escolhas e intenções do cineasta. Isto, depois de uma aparição noturna da avó dele, já falecida, advertindo-o de que irá se arriscar muito, disparando “a máquina infernal”. Na trilha sonora, volta e meia escutamos advertências que talvez sejam como mensagens crítpicas de perigos em tempo de guerra (ou sabe-se lá o que estão falando certas vozes em off).
Esta salada com pretensões sérias de tentar perceber porque o sexo é frequentemente associado à hipocrisia e violência acaba por contradizer o que as atrizes selecionadas falam inicialmente sobre o personagem masculino e a forma pela qual ele se interessa pelo erotismo da mulher: uma tem ataques que ela atribui a possessão demoníaca (?) e fica uma fera quando é retirada do filme, assim como outra já havia se sentido usada por ter sido testada mas não incluída no projeto final. Por fim, todas se revelam perigosas para o macho, que já havia sido advertido pela avó-fantasma e pela esposa de carne e osso. Parece que o mistério sexual das mulheres acaba sendo mesmo algo perigoso para os homens.
Consta que o diretor deste filme (não o personagem François, mas o realizador Jean-Claude Brisseau) enfrentou contratempos em seu filme anterior por motivos semelhantes aos que colocou no seu novo roteiro. Com muito maior economia, David Mamet foi bem mais feliz ao caracterizar acusações de abuso sexual que não teria existido concretamente no antigo Oleanna. Como está, Anjos Exterminadores sugere mais uma vingança de Brisseau contra as atrizes que o processaram quando do filme precedente. “Vingança é um prato que se come frio”, reza um ditado. Brisseau parece pretender sua revanche temperada de pretensão e com uma elegância formal (fria) que contribuem ainda mais para tornar este filme em algo totalmente falso, do princípio ao fim.
# OS ANJOS EXTERMINADORES (LES ANGES EXTERMINATEURS)
França, 2006
Direção e Roteiro: JEAN-CLAUDE BRISSEAU
Fotografia: WILFRID SEMPÉ
Montagem: MARIA LUISA GARCIA
Música: JEAN MUSY
Elenco: FRÉDÉRIC van de DRIESSCHE, MAROUSSIA DUBREUIL, LISE BELLYNCK, MARIE ALLAN, VIRGINIE LEGEAY.
Duração: 100 minutos