Texto escrito em 25/9/2007 quando da exibição do filme no Festival do Rio daquele ano
A mais recente extravagância narcísica de Quentin Tarantino, À Prova de Morte, é uma sucessão de cenas totalmente descabeladas e descerebradas com a marca registrada de desfilar referências cinematográficas, agora de filmes muito aquém da categoria “B” dos anos 1970. Em poucas palavras: porrada e sangue em corridas de carros. Tudo isso recheado com o hábito tarantinesco de muitas palavras aleatórias em frase que se pretendem engraçadinhas pela vacuidade e – novamente – referências. Referências “pop”, “trash” e assemelhadas nas boquinhas pintadas de gostosonas em shortinhos sumários. O brega como lixo reciclado para a "catiguria" de filme "cult" que assim se quis desde antes de exisitir.
Dá o que pensar sobre essa avalanche de citações e mimetismo de filmes péssimos, agora tomados como referência para realizações – vá lá – “pós-modernas”. Dá o que pensar esse álibi da pós-modernidade para um cineasta que já disse do que é capaz mas escolhe como tema nulidades cada vez mais nulas, visando uma suposta diversão que se pretende inteligente por tratar de bobagens, sandices.
O que era uma espécie de molho McDonald’s em Pulp Fiction (as conversas banais que já existiam em Cães de Aluguel) e o que foi nonsense caricato no questionável projeto Kill Bill reparece elevado ao primeiro plano em À Prova de Morte e como matéria prima: ou seja, o supérfluo transformado em “essência”.
Chega a soar arrogante a liberdade que Tarantino se dá pelo poder que adquiriu de filmar o que quiser, tendo como foco de interesse coisas na linha do “quanto pior melhor”, ficando cada vez pior de filme para filme, deixando o melhor para trás (Cães de Aluguel, Jackie Brown).
O que é para ser “trash” (com pretensão “cult”), entretanto, bate na tela como o que se diria, em bom português: lixo - e nada mais. Tedioso, repetitivo, grosseiro e grotesco. Não é caso de falta de senso de humor para se divertir e aproveitar da brincadeira: é considerar a brincadeira de mau gosto. Péssimo gosto. Gosto: coisa da qual se diz "não se discute". Mas discute-se, sim, cabendo a questão: o que salvar deste filme feito como deboche e com habilidade pirotécnica de querer parecer com um filme velho mal feito, só que com uma praxis “bem feita” de se passar por mal feito? Oxímoros perfeitos - e imperfeitos. Piruetas teórico-técnicas formalistas defenderão a "obra" até que alguém grite que tais reis estão nus. E que são muito feios de corpo e alma.
# À PROVA DE MORTE (DEATH PROOF)
Estados Unidos, 2007
Direção, Roteiro e Fotografia: QUENTIN TARANTINO
Elenco: KURT RUSSELL, ROSARIO DAWSON, SYDNEY TAMIIA POITIER, VANESSA FERLITO.
Duração: 113 minutos