Críticas


IRINA PALM

De: SAM GARBARSKI
Com: MARIANNE FAITHFULL, MIKI MANOJLOVIC, KEVIN BISHOP, SIOBHÁN HEWLETT
20.03.2008
Por Luiz Fernando Gallego
A VELHA DA TARDE - OU - A TRANSGRESSÃO VASELINADA

Pretextos: uma situação-limite (netinho com doença grave à beira da morte) e uma impossibilidade (não há dinheiro para levá-lo a uma última tentativa de tratamento).



Desenvolvimento: há que se tentar qualquer coisa. Questão: “qualquer coisa” desde que não ofenda uma platéia conservadora. Menos!



Hipótese: uma “proposta indecente” – a vovó de seus cinquenta e tantos anos meio caidinhos se prostituindo. Atenuante: ela não faz “tudo”, apenas masturba os clientes através de um buraco na parede, sexo anônimo de parte a parte.



Surpresa engraçadinha: a vovó leva jeito para a coisa e faz sucesso. E cuida de sua cabine como se fosse uma parte de sua casa.



Reviravolta do roteiro: o filho descobre de onde vem o dinheiro e ameaça não usar os ganhos espúrios de sua mãe para tentar salvar o próprio filho dele e neto dela, afinal alguém teria que preservar a moral vigente, ufa! Mas o filme não teria deixado de questionar a tal moral vigente através de uma proposta (meio) indecente, meio avançadinha (?) para lidar com situações-limite (quando o círculo se fecha: vide o pretexto inicial apontado na abertura deste texto).



Resultado: muitas senhoras poderão ficar embevecidas com a “velha da tarde”, sendo que durante o Festival do Rio 2007 (quando este filme foi exibido pela primeira vez por aqui) ouvia-se declarações como “um dos melhores filmes que já vi”, percebendo-se o encantamento e identificação com alguma possibilidade de exercer a sexualidade crepuscular. Pena que não seja “just for fun”, mas com a condição de que seja sexo “vaselinado” - e em nome de uma boa e nobre causa! Pode-se dizer que Bebel (em novela recente, na pele de Camila Pitanga) fez a cabeça de mais gerações do que se pensava...



Além de tudo, é meio triste ver no papel desta avó sapeca ma non troppo a ex-companheira de Mick Jagger (muito antes de uma atualmente apresentadora de TV pintar no pedaço), a então bela Marianne Faithfull que chegou a ser ´Ofélia´ em um esquecido Hamlet de Tony Richardson e apareceu cantando à capella As Tears Go By (jamais seria Yesterday) em uma mesa de bar em Made in Usa de Jean-Luc Godard. E o que é pior, numa chave única de “interpretação” que sofre de tudo, menos de alguma modulação, em acachapante tom monocórdio que não arrisca nada - o que não deixa de ser mais uma “esperteza” e cinismo desta realização que se faz passar por ousada para, no máximo, protestar contra o uso da mulher como “negócio”. Mas que não deixa de providenciar um improvável encontro de corações geriátricos entre o dono do clube de sexo e a vovó – depois que ele, naturalmente, experimenta as habilidades manuais da sua talentosa empregada.



Nem vale a pena mencionar os furos do roteiro: onde foi parar a personagem ´Sadie Sacana´, como foi traduzido o codinome de ´Luisa´, aquela que guiou os primeiros passos (ou mãos) da vovó? Nem falar da direção burocrática, sem leveza nem clima de brincadeira para que a situação toda ficasse um pouco mais acima das derrapagens escorregadias de muito KY-Gel. Mais hábil do que as mãos da vovó, só os enquadramentos que a mostram em ação sem que se veja... digamos, a "matéria-prima" que ela tão habilmente manipula. Afinal, um filme para senhorinhas.



# IRINA PALM (IRINA PALM)

Reino Unido / Bélgica / Alemanha / Luxemburgo / França, 2007

Direção: SAM GARBARSKI

Elenco: MARIANNE FAITHFULL, MIKI MANOJLOVIC, KEVIN BISHOP, SIOBHÁN HEWLETT

Duração: 103 minutos

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