Na tradicional porta de vidro do miserável escritório de detetives particulares do cinema, Corvalán e Santana, na Buenos Aires de 1952, escreveram: “Métodos Norteamericanos”. La Señal, filme de estréia do ator Ricardo Darín na direção (compartilhada com Martin Hodara) poderia ter a mesma categorização.
Assim como há um certo cinema francês que quer mimetizar filmes e estilo americanos, este não é o primeiro filme argentino do Festival Rio 2007 que parece querer ser tão americano quanto manter sua cor local, com resultados – no mínimo – discutíveis. La Señal não é tão insatisfatório como Cidade em Cio (ver crítica de Maria Silvia para esta mostra aqui neste site) onde víamos um grupo de pessoas em um bar com trama similar a de tantos “amigos para sempre” ou “reencontros” ianques. Mas a estréia de Darín também fica no meio do caminho sem ser nem bem portenho nem muito menos à moda americana do norte.
Aqui, o gênero importado é o do policial noir, a partir de livro homônimo de Eduardo Mignogna - que ia filmá-lo, mas faleceu na pré-produção, quando Darín, escalado para o elenco, levou o projeto adiante. O pano de fundo recorrente insiste nos últimos dias de Evita Perón, mas a intercessão política com o enredo criminal que teria sido pretendida permanece oculta ou demasiadamente genérica - pelo menos para um não-argentino menos familiarizado com a corrupção ou desmandos peronistas da época. Com uma possível comparação literária que traz desvantagem para o filme: o pequeno romance Sombras da Broadway, de Sergio Sinay, seguia a cartilha noir mesclada à situação política da ditadura militar na Argentina dos anos 1970. Foi publicado no Brasil pela extinta Editora Brasiliense em 1984, mas não é difícil encontrá-lo em sebos de rua ou da internet: ainda que não tenha sido relido para uma reavaliação, a memória diz que parecia bem resolvido. O roteiro de La Señal não deixa a mesma impressão: óbvio e totalmente previsível, parece mais um pastiche com clichês aos quais não falta uma alusão (minimalista, diríamos) à clássica cena dos espelhos de A Dama de Shangai, uma das mais citadas e/ou copiadas de Orson Welles por epígonos mais ou menos bem sucedidos. Geralmente, muito menos.
Tal como em Cidade em Cio que se centrava no bar “Garlington”, uma homenagem a Gardel e (Duke) Ellington, com as sílabas justapostas para compor o bizarro nome do estabelecimento, a trilha sonora de La Señal mistura tango (um pouco) com Sinatra; e repete o truque de fotografia em sépia para dar o clima de passado já distante, bonita de início, mas que cansa por permanecer maneirista, sem modulações na mantida tonalidade escura, quase em “preto-e-rosa”. As cenas se sucedem sem um ritmo eficaz e os excessos de planos fechados em rostos entediam um pouco para um final sem novidades. No elenco, o destaque vai para Diego Peretti: Darín repete sua expressão mantida de tédio e Julieta Díaz é pouco convincente dentro das limitações da personagem.
# LA SEÑAL (LA SEÑAL)
Argentina / Espanha, 2007
Direção: RICARDO DARÍN, MARTIN HODARA
Elenco:RICARDO DARÍN, DIEGO PERETTI, JULIETA DÍAZ, ANDREA PIETRA.
Duração: 95 minutos