Críticas


PLANETA TERROR

De: ROBERT RODRIGUEZ
Com: ROSE MCGOWAN, FREDDY RODRIGUEZ, JOSH BROLIN, BRUCE WILLIS.
08.11.2007
Por Luiz Fernando Gallego
"ESTÉTICA-ASCO"

Planeta Terror foi concebido como parte do projeto Grindhouse, uma homenagem aos filmes trash através da recriação de dois filmes “B” (ou piores ainda) dos anos 1970. O segmento dirigido por Robert Rodriguez foi menos apreciado no lançamento norteamericano, quando fazia o papel de um dos filmes de uma “sessão dupla” de cinemas de última categoria. A outra metade é de autoria do protetor de Rodriguez, Quentin Tarantino que realizou À Prova de Morte como o outro lado da mesma moeda de dez tostões furados.



Em outros países, os dois filmes estão chegando separadamente e sem todos os trailers de filmes (que não existem) no mesmo estilo “quanto-pior-melhor” para transmitir a impressão de que se estaria em uma sessão de cineminha “poeira” ou de drive-in, vendo cópias arranhadas, aos saltos, com fotografia “queimada” ou “lavada” de filmes de ação descabelada e de mulheres com pouca roupa. Na remontagem a partir da separação dos dois filmes, cada parte ganhou minutos a mais e, talvez por isto, o filme de Tarantino esteja, neste formato independente, sendo agora menos bem recebido do que o de Rodriguez. Talvez porque À Prova da Morte ficou ainda mais repetitivo e cansativo com corridas desabaladas de carros e brigas incessantes, sem nenhum fiapo de enredo (mesmo ruim) e com as intermináveis conversas sobre banalidades que o diretor sempre coloca em seus filmes e que ficaram bem sem graça.



Pode ser também que o modelo de Planeta Terror, ao seguir radicalmente a "estéticasco" (estética do asco) dos filmes de mortos-vivos, aqui com acentuado aspecto de putrefação em movimento, tenha desagradado desde o início à crítica mais conservadora americana. O humor de Planeta Terror faz rir, sim; mas desde que se tolere o nojo das cenas com vísceras e carnes derretendo em exacerbado exagero (vale o pleonasmo) de paródia, um recurso referencial que já existia tanto em nossas velhas chanchadas da Atlântida como no melhor de alguns filmes de Mel Brooks quando recorria ao terror mais ingênuo e antigo do Frankenstein de 1931 para o Jovem Frankenstein, de 1974 - ou citando filmes de Hitchccock em Alta Ansiedade, de ’77.



Aqui, a go-go girl ‘Cherry Darling’ (Rose McGowan, ótima em todos os sentidos), dançando durante os créditos de abertura, mas chorando aos borbotões, já é irresistível. Quando ela tiver uma perna devorada por um zumbi, ameaçando sua ambição de vir a se tornar uma comediante stand-up, e receber um toco de perna de mesa pelo improviso do mocinho destemido ‘El Wray’ (Fredy Rodriguez, curtindo seu papel), o filme já terá dito a que veio em matéria de irreverência e total falta de limites, chegando à substituição da “perna” de mesa por uma metralhadora de alta potência de lança-bombas - que ela usa, levantando a - digamos - nova coxa em noventa graus ou mais, como aprendeu com a prática de dançarina.



Tudo é permitido, sem pudor algum. O mau gosto e o humor escatológico com cenas grosseiras e asquerosas exigem que o espectador “entre no clima” – o que Rodriguez consegue com ajuda de um enredo descabelado e mais descerebrado do que os zumbis dos filmes parodiados (aqui, não são exatamente quaisquer mortos-vivos, mas vítimas de um gás usado na guerra do Iraque que apodrece os contaminados em vida, transformando-os em devoradores de gente – argh!).



Mas fica uma questão a partir de duas premissas. Uma delas diz respeito a filmes de terror do “estilo” parodiado que, a rigor, já pareciam pastiches grotescos por si próprios, o que pode ter facilitado o serviço de Rodriguez em atingir a meta pretendida. A outra, remete ao fato de que Rodriguez sempre foi um cineasta bem mais limitado do que Tarantino, tendo perpetrado coisas como Um Drinque no Inferno - que já era um “grindhouse movie”. Em outras palavras, gênero e diretor foram feitos um para o outro.



Quem curtir a baixaria vai delirar. Um dos falsos trailers foi mantido como “aperitivo” e é ótimo como gozação. Tudo é auto-limitado, a proposta é esdrúxula, mas – dentro do pretendido (e desde que advertidos os espectadores) não haverá do que reclamar.



# PLANETA TERROR (PLANET TERROR)

Estados Unidos, 2007

Direção, Roteiro, Fotografia, Edição e Trilha Musical: ROBERT RODRIGUEZ

Elenco: ROSE MCGOWAN, FREDDY RODRIGUEZ, JOSH BROLIN, BRUCE WILLIS.

Duração: 97 minutos

site oficial: http://planetterror.es/

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