Caixas podem sinalizar mudanças, mas no filme de Jane Birkin parecem expressar conexão com o passado. As personagens permanecem presas à necessidade de resgatar experiências diante da dificuldade de lidar com a ausência. Há um constante esforço em recuperar sensações de intimidade, como o contato próximo entre mãe e filha que esfriou com o passar do tempo.
O presente é visto como um instante de crise. A maior parte das personagens evidencia um descompasso entre o que se tornou e o que gostaria de ter sido. Em Caixas , a aparência não é ilusória. “E se fomos realmente quem parecemos ser?”, perguntam. As questões são sempre as mesmas, geração após geração, ainda que as mulheres apresentadas no filme vivam em (aparente?) falta de sintonia, como que mergulhadas em tempos diversos.
Elas aparecem reunidas numa casa de campo. Mais do que uma mera locação, trata-se de um espaço flagrantemente desordenado que informa a respeito da subjetividade das personagens. A diretora transita da dispersão para a concentração, tanto no que diz respeito à crescente precisão dos conflitos abordados quanto à busca por espaços cada vez mais concentrados, passando de cômodos variados para o confinamento de um único quarto.
Num elenco que conta com as presenças ilustres de Géraldine Chaplin e Michel Piccoli, além da própria Jane Birkin, vale mencionar Maurice Benichou, ator com experiência acumulada em trabalhos com o diretor Peter Brook, e a veterana Annie Girardot, dois atores que marcaram presença, recentemente, no incômodo Cachê , de Michael Haneke.
# CAIXAS (BOXES)
França, 2007
Direção e Roteiro: JANE BIRKIN
Elenco: JANE BIRKIN, GÉRALDINE CHAPLIN, MICHEL PICCOLI
Duração: 95 minutos