Saí da sessão de “Oppenheimer” com uma sensação rara nos dias de hoje: a de ter visto um filme hollywoodiano para adultos, em que os efeitos especiais existem para servir à história, e não como um fim em si. É como se Christopher Nolan tivesse filmado no formato 70mm para nos transportar a um tempo nostálgico de telas grandes preenchidas por uma trama calcada em diálogos que exigem atenção do espectador, com um protagonista cheio de dilemas morais em meio a reflexões políticas e científicas. E um grande elenco que dá prazer de assistir.
O físico que construiu a primeira bomba atômica é uma figura importantíssima na história da humanidade, e o que Nolan nos proporciona é uma aula sobre o homem idealista e o profissional obstinado, sobre como seus valores derretem frente à máquina de guerra americana. O diretor faz isso com a destreza de um mestre do cinema clássico: som, música, direção de arte, todos os elementos técnicos engrandecem a experiência sem desviar o foco do que é mais importante. Talvez tenha faltado um pouquinho de poesia, se imaginarmos um final semelhante ao de “Dr. Fantástico”, de Stanley Kubrick, com bombas explodindo ao som de “We will meet again”.
Se os tempos mudaram e tem gente que vê o evento cinematográfico se resumir a tirar foto dentro de uma caixa rosa quadrada pra se exibir nas redes sociais, o sucesso artístico e de bilheteria de “Oppenheimer” nos faz acreditar que nem tudo esteja perdido.