Supõe-se que, ao escolherem assistir a um filme chamado Ali, aqueles que só conhecem Muhammad Ali das reprises de suas lutas ou de sua frágil imagem atual de vítima de Mal de Parkinson, estejam interessados em descobrir um pouco mais sobre o maior lutador de boxe de todos os tempos. Para estes, após a sessão Muhammad Ali continuará sendo um enigma. Melhor ir correndo para a videolocadora alugar o excelente documentário Quando Éramos Reis.
E olha que este novo filme do diretor de O Informante e O Último dos Moicanos nem é de todo ruim. Tanto que segura a atenção do espectador ao longo de 156 minutos. É apenas inaceitável que tão longa duração não tenha sido suficiente para destrinchar o personagem numa obra que se pretende biográfica. O que Michael Mann parece fazer melhor é filmar as cenas de luta. Em cima do ringue, sua câmera se move com bastante eficiência, os efeitos sonoros chamam a atenção e Will Smith convence como boxeur.
Mas o roteiro não se detém nas nuances de um personagem tão rico. Malcolm X, por exemplo, é mostrado como um amigo muito próximo de Ali, mas quem não viu Malcolm X, o filme de Spike Lee, não vai entender muito bem quem ele era, nem qual sua influência sobre o lutador. A sua relação com os líderes islâmicos também é confusa, assim como os bastidores da recusa de Ali a ir para o Vietnã, que acabou motivando sua prisão. Há no filme muito pouco de seu lado debochado e marqueteiro, assim como a relação com as mulheres. Ah, mas em compensação tem Jon Voight irreconhecível e perfeito como o narrador de lutas de boxe Howard Cosell. A amizade entre os dois é bastante convincente, e junto com as cenas de luta, não deixam o filme ir a nocaute antes do fim.
# ALI
EUA, 2001
Direção: MICHAEL MANN
Roteiro: STEPHEN J. RIVELE, CHRISTOPHER WILKINSON, ERIC ROTH e MICHAEL MANN
Produção: PAUL ARDAJI
Fotografia: EMMANUEL LUBEZKI
Montagem: WILLIAM GOLDENBERG, LYNZEE KLINGMAN, STEPHEN E. RIVKIN
Música: PIETER BOURKE
Elenco: WILL SMITH, JAMIE FOXX, JON VOIGHT, MARIO VAN PEEBLES, RON SILVER
Duração: 156 min.