Uma virtude é inegável nos últimos filmes de Gus Van Sant: ele encontrou uma forma de plasmar na tela a inapetência juvenil. É um pacote formado por olhares vazios, caminhadas insípidas por longos corredores, cenas desfocadas, uma certa desconexão entre imagem e som, abundância de junk food, cenas que se repetem, ações que se estiolam num fluxo sempre interrompido.
Assim foi com os estudantes de Elefante, o roqueiro terminal de Last Days e é agora com o skatista perplexo de Paranoid Park. O fato de contar uma história é algo que parece incomodar Van Sant – e ele tenta desvencilhar-se dessa “obrigação” como alguém que afasta o assédio contínuo de um cachorrinho insistente. Os fatos, para ele, são um estorvo. O que interessa é o estado do personagem. Mas como seus personagens são ícones da alienação e da anorexia espiritual, resta ao espectador boiar nesse mar sem ondas. Há quem goste.
Van Sant valoriza imagens de conteúdo simbólico, o que não combina muito com sua imagem de cineasta moderninho. Paranoid Park é, para Alex, um lugar de transgressão, onde os outsiders se reúnem para deslizar no vácuo. Na visão estreita de um garoto de Portland, a pista maldita é indício de um mundo alternativo cuja existência ele intui, observa, mas tem preguiça de investigar. Ali vai ser também o lugar de sua perdição na noite em que decide acompanhar um transgressor contumaz. Um golpe instintivo com o skate, uma morte horrível e uma primeira tentativa de jogar tudo para debaixo do tapete da indiferença. Mas a realidade vai no seu encalço.
Alex é um solitário entre pais que se divorciam (o pai é visto em geral de costas, pela metade ou fora de foco – ah, os símbolos...) e uma namorada patricinha que não faz a gentileza de respeitar a inércia dele. Supostamente, o conhecemos através de um improvável relato escrito de próprio punho, o que só serve para justificar o embaralhamento da cronologia.
De resto, Van Sant joga para sua platéia de fãs com a imposição de um estilo evasivo e superlotado de maneirismos. E tome corredores banhados em luz fria, cenas de skate em Super 8, gotas caindo em slow motion, ecos. Existe todo um arcabouço fetichista em relação ao cinema de autor europeu, que inclui cortes secos e falsa continuidade a la Godard, música eletrônica francesa (o filme é produzido por Marin Karmitz) e uma inexplicável profusão de temas de Nino Rota. São tantos os badulaques que fica difícil encontrar gente em algum lugar.
O olhar distanciado do diretor não sugere nenhuma crítica ou elaboração sobre o universo adolescente. É apenas mais um sinal de afetação entre outros. Uma maneira de deslizar no vácuo a bordo do cinema chique.
# PARANOID PARK (PARANOID PARK´)
Estados Unidos/França, 2007
Direção, roteiro e edição: GUS VAN SANT
Fotografia: CHRISTOPHER DOYLE e KATHY LI
Elenco: GABE NEVINS, DAN LIU, JAKE MILLER, TAYLOR MOMSEN.
Duração: 85 minutos
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