Críticas


POR UM SENTIDO NA VIDA

De: MIGUEL ARTETA
Com: JENNIFER ANISTON, JAKE GYLLENHAAL, JOHN C. REILLY, TIM BLAKE NELSON, ZOOEY DESCHANEL
18.10.2002
Por Daniel Schenker
EXCESSO DE CORAGEM, SINAL DE MEDO

Do humor absolutamente irreverente de Kevin Smith (O Balconista) ao impiedoso flagrante dos distúrbios por Todd Solondz (Felicidade), do sensível mergulho na melancolia realizado por Eric Mendelsohn (Judy Berlin) ao estado de torpor captado por Ang Lee (Tempestade de Gelo), o tédio vem sendo cada vez mais retratado no cinema. Ao que tudo indica, trata-se de uma seqüela urbana, que já tem a sua geografia demarcada nos supermercados, nas lojas de conveniência e casas suburbanas americanas. Em Por um Sentido na Vida, o diretor Miguel Arteta pinça personagens sem perspectivas, estacionados em meio ao dia-a-dia monótono de uma pequena cidade do interior do Texas.



A história de Justine, uma mulher insatisfeita no trabalho e na vida amorosa que se interessa por Holden, rapaz mais jovem, vidrado em O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, e um tanto passional, cairia facilmente no esquematismo. Mas, à medida que o filme avança, a personagem vai revelando uma impressionante frieza em relação aos acontecimentos que a cercam. Não chega a lidar com os eventuais ganhos e perdas de uma desestabilização, na medida em que passa a impressão de ter condições de manter tudo sob controle e de sustentar sozinha e a todo custo as consequências decorrentes das decisões mais extremadas.



A origem destas reações surpreendentes, porém, parece residir no medo diante da clandestinidade. “Há segredos profundos que nunca deixarão de existir”, diz, num determinado momento, fornecendo uma pista relevante em relação à dificuldade em seguir na direção do desconhecido. Por mais infeliz que esteja, luta pela segurança proporcionada por um cotidiano sem surpresas ao lado de um marido que, pouco a pouco, começa a se esforçar para sair da acomodação completa.



No entanto, mesmo que tenha se mostrado habilidoso na construção de uma personagem ambígua (mérito que tambem deve ser creditado ao roteirista Mike White), Miguel Arteta não sustenta plenamente a provocação lançada pelo título original (The Good Girl), não chegando a romper com uma certa padronização. Da mesma forma que Justine, Por um Sentido na Vida carece de coragem - algo que poderia levar o espectador a se conectar com o seu próprio vazio.



# POR UM SENTIDO NA VIDA (THE GOOD GIRL)

EUA, 2002

Direção: MIGUEL ARTETA

Roteiro: MIKE WHITE

Produção: MATTHEW GREENFIELD

Fotografia: ENRIQUE CHEDIAK

Montagem: JEFF BETANCOURT

Elenco: JENNIFER ANISTON, JAKE GYLLENHAAL, JOHN C. REILLY, TIM BLAKE NELSON, ZOOEY DESCHANEL

Duração: 93 min.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário