Críticas


O QUARTO AO LADO

De: PEDRO ALMODÓVAR
Com: TILDA SWYNTON, JULIANNE MOORE
05.10.2024
Por Luiz Fernando Gallego
As duas personagens centrais e suas atrizes concentram intensamente a emoção que o filme transmite.

O Quarto ao Lado, primeiro longa-metragem falado em inglês de Almodóvar, Leão de Ouro no Festival de Veneza 2024, traz um roteiro mais sério ainda do que os de alguns filmes recentes do diretor e é interpretado com o talento das excepcionais Tilda Swynton e Julianne Moore. Julianne mostra que não teme interpretar um papel mais "discreto": em alguns momentos, quase uma "escada"' para Tylda – cuja personagem (ou duas) tem falas com mais oportunidades para brilhar. Mas saber ser sutil como Julianne é uma arte para poucas grandes atrizes.

Na fotografia, Almodóvar trabalha pela primeira vez com o catalão Eduard Grau (de Identidade, de Rebecca Hall, 2021) que preserva boa parte do estilo do cineasta, ainda que as cores vivas, uma de suas habituais marcas registradas, por vezes surjam menos berrantes - parecendo buscar tonalidades das pinturas de Hopper, citado explicitamente quando as personagens comentam uma imagem enquadrada quando entram na casa alugada para "férias": “uma boa reprodução de Hopper”. A música, sempre ótima, do habitual colaborador Alberto Iglesias, em alguns momentos poderia não se fazer tão presente.

A química entre as duas atrizes e a organicidade da intensa concentração de emoções das personagens que elas transmitem poderia dispensar acréscimos do roteiro quando se afasta da dupla para enfocar personagens periféricos como o de John Turturro, o de um personal trainer e outro que só surge no – digamos – epílogo com um discurso moralista/religioso. Soam quase como pontas soltas alheias ao fortíssimo núcleo emocional do filme, implantados à força para trazer “mensagens” sobre o planeta (tão moribundo quanto a personagem ‘Martha’, sem que as situações se articulem bem), os exageros nas “regras” de como as pessoas devem se relacionar perdendo a espontaneidade, e os preconceitos dos fundamentalismos religiosos. Mas não chegam a comprometer o que é construído pelas duas atrizes no que é essencial no enredo, destaques absolutos para a emoção que domina projeção.

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