Críticas


ROLLING STONES – SHINE A LIGHT

De: MARTIN SCORSESE
04.04.2008
Por Marcelo Janot
EXPLOSÃO CONTIDA

Mesmo com a grife Martin Scorsese na direção, Shine a Light está longe de ser o documentário definitivo sobre os Rolling Stones. Este posto ainda pertence a Gimme Shelter, de 1969, no qual os irmãos Maysles registraram, com genial simplicidade criativa, a banda no palco e nos bastidores. Pode ser apenas coincidência que a primeira música de cada um dos filmes seja Jumpin Jack Flash, mas a participação de Albert Maysles operando a câmera nas cenas de backstage é claramente um tributo de Scorsese ao mestre.



Scorsese foi assistente de câmera no documentário Woodstock (1970), e seis anos depois filmou o show de despedida do grupo The Band, que resultou no magnífico documentário The Last Waltz – O Último Concerto de Rock. Esta é sua maior fonte de inspiração para Shine a Light. A semelhança do teatro em que o The Band se apresentou, em São Francisco, com o Beacon Theater, palco do show dos Stones, ajuda a entender porque Scorsese não aceitou a sugestão de Mick Jagger e Keith Richards – eles queriam filmar o histórico show na Praia de Copacabana, recorde de público na trajetória da banda. O palco pequeno e a estrutura do teatro permitem ao diretor um controle maior, com menos riscos, sobre o trabalho a ser realizado pelos operadores de câmera.



Em Shine a Light, ele contou com um time de feras que inclui o diretor de fotografia Robert Richardson (O Aviador), John Toll (Coração Valente) e Emmanuel Lubeszki (O Novo Mundo). O cenário retrô e a iluminação de tom âmbar são quase idênticos ao que se vê em The Last Waltz, além da nítida preocupação do diretor em privilegiar o lado musical em detrimento dos bastidores – que em The Last Waltz até assumiam alguma importância, com Scorsese entrevistando a banda. Mas em Shine a Light o pouco que se vê são trechos de entrevistas raras, concedidas pelos Stones no início da carreira, que servem mais como ligeiros interlúdios entre as canções – além, é claro, da dispensável visita da família Clinton.



Nenhum problema em dedicar mais atenção aos momentos musicais, até porque não há banda que tenha uma performance tão explosiva no palco quanto os Rolling Stones. Só que no ambiente intimista do teatro, as reduzidas dimensões não permitem, apesar de toda a energia de Mick Jagger e da banda, a catarse que se vê nos shows dos Stones para multidões. Além disso, não dá pra deixar de notar, na platéia, as patricinhas deslumbradas na frente do palco, mais interessadas em tirar fotos com celulares e câmeras digitais, e que provavelmente conhecem mais o repertório de Christina Aguillera (que participa do show) do que o dos Stones. As participações de Aguillera e de Jack White, do White Stripes, deixam claro o intuito comercial do projeto.



Apesar de tudo isso (e da lamentável ausência de legendas nas canções), “Shine a Light” é um show dos Rolling Stones. E não é todo dia que se pode assistir aos Stones no cinema.



# ROLLING STONES – SHINE A LIGHT

EUA, 2008

Direção: MARTIN SCORSESE

Fotografia: ROBERT RICHARDSON

Edição: DAVID TEDESCHI

Duração: 122 min.

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