Críticas


VIVA ZAPATERO!

De: SABINA GUZZANTI
Com: SABINA GUZZANTI, SILVIO BERLUSCONI
07.04.2008
Por Carlos Alberto Mattos
FORZA SABINA

Poucos artistas e jornalistas na Itália de Silvio Berlusconi se dispunham a furar o círculo censura-reclamação-aceitação. Pelo menos é isso o que achava a atriz Sabina Guzzanti, autora de cáusticas imitações do homem forte do país. Em novembro de 2003, quando teve seu programa Raiot descontinuado logo após a primeira emissão e foi processada pelos advogados do império Berlusconi, ela resolveu quebrar o círculo. Viva Zapatero! é essa tomada de atitude.



O filme, referido como o Fahrenheit 11/9 italiano, é a crônica de uma indignação, embora se beneficie do humor na medida do possível. Afinal, é de sátira que se trata. Ao longo da projeção, vemos diversas cenas da belíssima Sabina escondida atrás de próteses que lembram vagamente Berlusconi. Sua melhor imitação, porém, é do então presidente da RAI, com direito a vesguice e dialeto. Censurada na TV, Sabina passou a se apresentar em teatros e a repercutir, através do filme, o descompasso da Itália em relação ao resto da Europa no que diz respeito à liberdade de expressão e à confusão entre interesses políticos e econômicos.



Berlusconi é alvo relativamente fácil, com aquele ar de Mussolini à paisana. Nanni Moretti, outro contemporâneo que não se deixa abater, já raspou o assunto em Aprile e mais recentemente o encarou de frente na sátira Il Caimano. Sabina, portanto, não se limita a atacar o inimigo, mas também questiona as razões dele. Conclama Dario Fo e satiristas estrangeiros para reforçarem sua opinião a respeito da sátira como algo saudável para o bom funcionamento da democracia. Usando tática semelhante à de Michael Moore, não escolhe lugar para encurralar ministros, políticos e dirigentes da TV estatal a fim de pedir explicações sobre a censura a seu programa. Só faltou perguntar a seu próprio pai, o comentarista político Paolo Guzzanti, por quê ele se elegeu senador justamente pela Forza Italia, o partido de Berlusconi.



Mas Sabina prima pela independência. A ponto mesmo de expor a leniência da esquerda italiana com a censura e criticar colegas jornalistas que se resignam ao jogo da censura e se acovardam diante do medo de perder empregos. A mídia na Itália é uma farsa, grita bem alto Viva Zapatero!. Ovacionado no Festival de Veneza de 2005, o doc virou peça de militância pela liberdade de expressão no país.



La Guzzanti é muito clara em suas posições, mas soa obscura quando se trata de títulos. O programa Raiot, por exemplo, fazia um trocadilho com a emissora RAI e o termo inglês riot (violência pública). Viva Zapatero! alude ao filme Viva Zapata! (sobre a revolução mexicana) e ao atual presidente da Espanha, que separou a TV pública do poder político como primeira medida do seu governo socializante. São títulos demasiadamente conceituais, que esvaziam a comunicação de seus trabalhos. Da mesma forma, a narração em inglês destoa um pouco do cabal engajamento do filme na realidade italiana.



De resto, é um doc potente e mobilizador. A edição ágil cria um bom fluxo de materiais bastante distintos, que vão da vulgaridade estética da TV ao estilo “quente” de um cinema-verdade aplicado a uma causa política. Sabina Guzzanti é uma personalidade forte no centro de tudo, em plena luta para reverter a morte do telejornalismo investigativo na Itália. É por aí que Viva Zapatero! alcança seu sentido universal.





VIVA ZAPATERO!

Itália, 2005

Direção e roteiro:
SABINA GUZZANTI

Fotografia: PAOLO SANTOLINI

Edição: CLELIO BENEVENTO

Música: RICCARDO GIAGNI, MAURIZIO RIZZUTO

Duração: 80 minutos

Site oficial em italiano: clique aqui

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