À primeira vista, Todos Contra Zucker se inscreve numa determinada vertente do cinema alemão, mais identificada com as propostas de diretores como Doris Dorrie, que trabalham no sentido de aproximar a produção do país do registro da comédia através de filmes pouco reverentes a grandes nomes como Fassbinder, Herzog, Wenders... No entanto, Dani Levy não parece propriamente preocupado em dotar este seu filme (que desembarca com considerável atraso no Brasil) de personalidade. Mesmo que o espectador se entretenha com o resultado competente apresentado na tela, não há muita novidade nem no material, nem no enfoque do diretor.
Todos Contra Zucker segue à risca os requisitos do que talvez se possa chamar de comédia de contrastes. Aqui, dois irmãos, afastados desde a construção do Muro de Berlim, são obrigados a ensaiar uma reconciliação, exigência contida no testamento da mãe. Desconectado da religião judaica, Jaeckie Zucker é um golpista carismático que vive irresponsavelmente o instante imediato em meio a uma estrutura familiar desarticulada. Samuel, ao contrário, obedece aos preceitos ortodoxos do judaísmo. Reunidos sob o mesmo teto para a shivah (os sete dias de luto após o falecimento), eles se estranham a princípio e, como seria de se esperar, começam a encontrar uma eventual possibilidade de convívio em meio a tantas diferenças.
Após uma largada pouco inspirada, calcada na apresentação do repertório de malandragens de Zucker, Levy passa a salpicar o filme de boas tiradas – em especial, nas passagens relacionadas ao esforço de Marlene em adquirir intimidade com os costumes judaicos. “Nunca é tarde para se tornar judeu”, diz a funcionária de uma loja diante da atarefada Marlene, cuja missão mais fácil é organizar em tempo recorde um jantar kosher. Não demora muito para ela concluir, diante do marido, que “vocês judeus têm regras demais. Não há espaço para o improviso”.
De forma hábil, Dani Levy cutuca a rigidez das tradições através das diversas estratégias praticadas por Zucker para burlar a vigília familiar. Pena que o cineasta invista em situações batidas, como a de Samuel extravasando depois de tomar um comprimido de ecstasy, e o desdobramento novelesco dos personagens dos filhos. O clímax, ambientado numa decisiva partida de bilhar, também soa um tanto similar ao que já se viu em diversas produções. Seja como for, graças à simpatia de Zucker, protagonista que pisca para o espectador, o filme tende a ser aprovado sem reservas por boa parte do público. No elenco competente, cabe fazer uma menção à ótima atriz Hannelore Elsner, presença magnetizante no excepcional Sem Lugar Para Ir , de Oskar Roehler. Mesmo um pouco subaproveitada neste Todos Contra Zucker , Elsner se destaca em pelo menos uma cena: a da sua reação no instante em que descobre que está chorando pelo marido errado num leito de hospital.
# TODOS CONTRA ZUCKER (ALLES AUF ZUCKER)
Alemanha, 2004
Direção: DANI LEVY
Roteiro: HOLGER FRANKE, DANI LEVY
Fotografia: CARL-RIEDRICH KOSCHNICK
Montagem: ELENA BROMUND
Produção: MANUELA STEHR
Elenco: HENRY HÜBCHEN, HANNELORE ELSNER, UDO SAMEL
Duração: 93 minutos