Críticas


QUANDO ESTOU AMANDO

De: XAVIER GIANNOLI
Com: GÉRARD DEPARDIEU, CÉCILE DE FRANCE, MATHIEU ALMARIC, CHRISTINE CITTI.
30.05.2008
Por Luiz Fernando Gallego
“FICA ANTIQUADO QUEM DURA MUITO!”

A frase é dita por ‘Alain Moreau’, o personagem central de Quando estou amando, um cantor de baladas românticas já conhecidas, com algum sucesso nos salões de dança em cidades francesas do interior. Sua já longa carreira e muitos aniversários nas costas fazem com que ele afirme o que diz como uma espécie de consolação, esquecendo que “durar muito” pode não ser uma vantagem para suas veleidades de conquistador com cabelos pintados e roupas bregas.



Mal comparando, se o personagem fosse brasileiro, seria algo como um “crooner” das boates cariocas do início dos anos 1960 - ou um “cantor de churrascaria” - talvez já substituídos por karaokês, moda que vem sobrevivendo mais do que merecemos todos, mas para ‘Moreau’, uma ameaça profissional.



Quando ele investe insistentemente no relacionamento com uma bem mais jovem corretora de imóveis chega a dizer que se sentiu “despertando”, mas a enorme diferença de hábitos, interesses e momentos específicos das vidas de cada um podem trazer mais baixos do que altos para seu projeto de “rejuvenescimento”.



Se o personagem surge um tanto decadente, seu intérprete, Gérard Depardieu, mostra que pode sair do “piloto automático” e ser capaz de, por si só, valer uma ida ao cinema. Impossível imaginar este filme sem Depardieu - que ainda está bem acompanhado por Cécile de France, em papel menos “simpático” e mais matizado do que aquele exageradamente sorridente de Um Lugar na Platéia. Se chega a ser um luxo (e desperdício) ter o excelente Mathieu Almaric em tão poucas cenas, o quarteto central se completa com a boa presença de Christine Citti fazendo a ex-esposa e atual empresária de ‘Moreau’.



O título brasileiro é bem menos sugestivo do que a idéia do original francês “Quando eu era cantor”: ambíguo porque mostra o personagem ainda em franca atividade, mas apontando para um estágio crepuscular com direito a problemas nas cordas vocais.



Quand j’étais chanteur chega às nossas telas com atraso de dois anos, tendo sido um dos representantes franceses para a Palma de Ouro em Cannes ‘2006 - onde Depardieu foi considerado favorito ao prêmio de interpretação masculina, afinal entregue ao conjunto de atores de Dias de Glória. Não parece um “filme de festival”: a narrativa do diretor Xavier Giannoli é bem tradicional, quase rotineira e um pouquinho alongada, a serviço de seu próprio roteiro fortemente dependente dos atores.



Embora neste filme a diferença de idades não seja tão abissal como a de Peter O’Toole e sua “Vênus” no filme inglês homônimo, realizado no mesmo ano mas exibido aqui com mais rapidez, há alguma coisa aproximada nas duas histórias – com vantagem para esta produção francesa ao driblar melhor armadilhas de melodrama. Se O’Toole também esteve excepcional em Vênus, Depardieu ainda canta e com muita garra: a trilha musical com ênfase em antigos sucessos “mela-cueca” na sua voz (e interpretação) mostra-se irresistível - que mais não seja para os corações menos jovens.



# QUANDOESTOU AMANDO (QUAND J’ÉTAIS CHANTEUR)

França, 2006

Direção e Roteiro: XAVIER GIANNOLI

Fotografia: YORICK LE SAUX

Edição: MARTINE GIORDANO

Música: ALEXANDRE DESPLAT

Elenco: GÉRARD DEPARDIEU, CÉCILE DE FRANCE, MATHIEU ALMARIC, CHRISTINE CITTI.

Duração: 112 minutos

Site oficial: www.europacorp.com/dossiers/quandjetais



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