Primeiro longa-metragem para salas de cinema dirigido pelo israelense egresso de realizações para televisão Eran Kolirin, de 35 anos que, no site oficial deste filme, fala da idéia para A Banda ter nascido da lembrança dos filmes egípcios exibidos na TV de seu país na década de 1980. Quase sempre, melodramas sobre amores impossíveis, vistos em sua casa com interesse e curiosidade por serem provenientes de um país com quem viviam em guerra ou em períodos de “paz fria” (sic).
O cineasta também refere recitais de uma orquestra de músicos judeus árabes oriundos do Iraque e do Egito também transmitidos pela TV. A orquestra não existe mais e, hoje em dia, os muitos canais a cabo de Israel não programam filmes egípcios. Ele comenta que nesse meio tempo um novo aeroporto foi construído sem placas indicativas em árabe, a língua materna de metade da população: “Muitos filmes abordam a questão da paz que não se consegue atingir, mas poucos colocam a questão de sabermos por que temos necessidade desta paz. (...) Trocamos amor por encontros de uma noite, arte por comércio, e os encontros humanos – a magia de uma conversa – pela obsessão de por as mãos na maior parte possível do bolo”.
Mas que ninguém pense que A Banda é um melodrama lacrimoso ou traz um enredo moralista e prenhe de proselitismos. O diretor e roteirista consegue escapar de várias das armadilhas em que o filme poderia naufragar a partir da idéia de colocar oito músicos egípcios, constrangidos e formais, por equívoco, em uma pequena vila perdida no deserto israelense. Não se verá (nem ouvirá) o clichê (por mais verdadeiro que seja) de que a música, como linguagem universal, pode unir os povos, mesmo que em algum momento um grupo heterogêneo cante (ou desafine) um pedacinho de Summertime, de Gershwin. Não há música incidental para “dar clima”, apenas diegética. Nem haverá discurso direto nem explícito sobre a guerra e a paz. Na maior parte do tempo, o que se vê é uma comédia discreta, sem gargalhadas, mas cheia de sorrisos irônicos - e também compreensivos - a partir das peculiaridades dos personagens que não são caricaturados nem estereotipados como “tipos” “árabes” ou “judeus”.
O desempenho dos atores colabora muito para um resultado afetivo (sem excessos de “doçura”) que perpassa discretamente as cenas: Sasson Gabai como um rígido “general da banda” lembra um Ugo Tognazzi sem exuberância, mas com capacidade de conquistar a empatia da platéia sem arroubos – pelo contrário, sua interpretação é bem econômica. Ronit Elkabetz diz a que vem sua personagem desde o primeiro diálogo com o “General”, quando este lhe pergunta onde é o Centro de Cultura Árabe (que fica em outra cidade de nome quase idêntico, mas bem distante de onde foram parar) e ela responde que ali não há Centro de Cultura Árabe nem Judaica, aliás, “não há cultura”. O membro mais jovem do conjunto de músicos, bonitão e conquistador, é responsável pela cena mais hilária do filme quando tenta ensinar um jovem judeu tímido a se aproximar de uma garota; este ator, Saleh Bakri, também é estreante, filho de Mohammed Bakri, que pode ser visto no DVD do excelente drama Violação de Domicilio. Todo o restante do elenco se mostra afinado com seus personagens e situações.
A narrativa visual é enxuta e até mesmo elegante, através de cenas que se sucedem com cortes bem ajustados aos tempos de cada plano poder mostrar os rostos dos personagens, muitas vezes em silêncio que traduz intensamente a vivência inusitada de uma convivência forçada – mas que, por vezes, pode resultar na descoberta de semelhanças na alteridade, todos muitos sós, "cada qual no seu canto".
Prêmio “Coup de Coeur” e da Federação Internacional de Críticos na mostra “Um Certo Olhar” do Festival de Cannes ‘2007, abocanhou quase todos os maiores prêmios locais para filmes israelense - mas foi inusitadamente rejeitado pela seleção do Oscar de “filme em língua não inglesa” porque é falado, em boa parte, nem em árabe nem em hebraico (que os diferentes grupos não entendem), mas em um precário e lacônico inglês em que tentam se comunicar.
# A BANDA (BIKUR HATIZMORET)
Israel/França/EUA, 2007
Direção e Roteiro: ERAN KOLIRIN
Fotografia: SHAI GOLDMAN
Edição: ARIK LEVAH LEIBOVITZ
Música: HABIB SHEHADEH HANNA
Elenco: SASSON GABAI, RONIT ELKABETZ, SALEH BAKRI, KHALIFA NATOUR, RUBI MOSCOVICH, SHLOMI AVRAHAN
Duração: 87 minutos
Site oficial: http://www.thebandsvisit.com/intro.html