Críticas


ONDA NO AR, UMA

De: HELVÉCIO RATTON
Com: ALEXANDRE MORENO, BABU SANTANA, ADOLFO MOURA, EDYR DUQUI
25.10.2002
Por Marcelo Janot
AUTENTICIDADE DE DEUS

Entre os méritos de Uma Onda No Ar, está o fato de o filme tratar de um tema essencialmente terceiro-mundista: as rádios comunitárias - no Brasil, elas são cerca de 15 mil. Ao enfocar este universo, o diretor Helvécio Ratton automaticamente deu a seu filme a legitimidade do cinema latino-americano. Para aqueles que acham que, não importando se o filme é mal ou bem realizado, o importante é que ele espelhe a nossa cultura, e o nosso povo se reconheça na tela, Uma Onda No Ar é perfeito. Basta lembrar que dois ótimos filmes latinos mais ou menos recentes também giraram em torno de rádios comunitárias: o peruano Pantaleão e As Visitadoras, de Francisco Lombardi, e o boliviano El Dia Que Murió El Silencio, de Paolo Agazzi.



A diferença de Uma Onda No Ar para os outros é que, neste caso, a rádio não é apenas um elemento da história. O filme é SOBRE a rádio comunitária. Uma rádio instalada não em remotas comunidades rurais, como costuma ser mais comum, mas erguida na marra dentro de uma favela urbana (em Belo Horizonte, MG). Logo, temos um contexto social fortíssimo, que envolve confrontos raciais, políticos e criminais.



Em diversos momentos, somos remetidos a Cidade de Deus. Não apenas pelo fato de os protagonistas serem todos negros e favelados, mas também porque o microcosmo das relações sociais na favela se repete, com algumas variações. Há uma cena que é quase idêntica ao filme de Fernando Meirelles. No baile, o traficante, mesmo com todo o status adquirido, não consegue seduzir a garota bonita, e agride covardemente o namorado dela.



Na comparação com Cidade de Deus, Uma Onda No Ar fica para trás em pelo menos dois aspectos: primeiro no didatismo do roteiro, que se preocupa demais em explicar as cenas, muitas vezes em tom de Telecurso Segundo Grau, deixando os personagens um pouco sem vida própria, exceção feita ao protagonista Jorge.



O segundo problema é a direção de atores. Principalmente porque Cidade de Deus estabeleceu um novo parâmetro de qualidade de interpretação para o cinema brasileiro. E, vindo logo em seguida, Uma Onda No Ar deixa muito a desejar nesse aspecto. Tirando o protagonista, Alexandre Moreno (justamente agraciado com o prêmio de melhor ator em Gramado), e Babu Santana (que teve a mesma formação do elenco de Cidade de Deus, e atuou também na série Cidade dos Homens), os demais são muito fracos ou parecem mal aproveitados, o que em algumas cenas dá um tom artificial ao filme.



Se ambos se propõem retratar nas telas um universo raramente abordado no cinema, o fazem com enfoques distintos. Uma Onda No Ar tem a seu favor a autenticidade de quem acredita naquilo que está colocando na tela. Sua mensagem otimista e de esperança vem embalada com um vigor contagiante, capaz de fazer a platéia esquecer todas as pequenas falhas técnicas e embarcar na proposta do filme. E Helvécio Ratton confirma o que já havia mostrado em O Menino Maluquinho e A Dança dos Bonecos: a vocação para transmitir emoção e sinceridade da maneira mais simples e digna possível.



# UMA ONDA NO AR

Brasil, 2002

Direção: HELVÉCIO RATTON

Roteiro: HELVÉCIO RATTON e JORGE DURÁN

Produção: SIMONE MAGALHÃES MATOS

Fotografia: JOSÉ TADEU RIBEIRO

Montagem: MAIR TAVARES

Música: GIL AMANCIO

Elenco: ALEXANDRE MORENO, BABU SANTANA, ADOLFO MOURA, EDYR DUQUI, BENJAMIN ABRAS

Duração: 92 min.

site: www.umaondanoar.com.br

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