O polonês Jerzy Skolimowski gozou de uma breve fama entre cinéfilos cariocas no final dos anos 1960 e início dos ´70 por ter sido o roteirista de A Faca na Água, de Polanski, e por seu filme Ato Final - que se passava em uma sórdida casa de banhos londrina. O sucesso em festivais e o reconhecimento por Ato Final o levou a uma produção com astros famosos (David Niven e Gina Lollobrigida) baseada no romance de Nabokov Rei, Rainha, Valete - que não foi tão bem recebido. A partir daí seus filmes tiveram lançamento muito irregular entre nós.
Aos 70 anos de idade e depois de 16 sem dirigir um filme, Skolimowski demonstrou estar em plena forma neste Quatro Noites com Anna, cujo título é irônico-amargo, visto que nas tais noites em que o personagem principal, Leon, "passa com" a enfermeira Anna, ela está sedada, bêbada e não tem a menor noção de que o humilde empregado do crematório do mesmo hospital em que ela trabalha esteve lá.
Pateticamente, ele vai de terno e gravata na noite da festinha de aniversário dela (depois de acabada) quando ela já dormiu, embriagada: brinda, bebe, se serve dos restos sobre a mesa e lhe deixa um presente caro. Alguma sordidez se repete em várias cenas, mas o humanismo para com a situação é maior do que tudo neste pequeno grande filme.
Leon pode nos recordar uma mescla de personagens famosos de filmes clássicos: por um lado, pode lembrar famosos voyeurs como era James Stewart em Janela Indiscreta, de Hitchcock ou o jovem de Não Amarás, realizado por seu conterrâneo Kieslowski. Afinal o voyeurismo é inerente ao cinema e já rendeu ótimos filmes, direta ou indiretamente reflexivos.
Embora mais ativo do que os citados, também não chega a ser um Terence Stamp de O Colecionador, de William Wyler: da janela de seu quarto, ele espia a janela de Anna - mas não só; chega a atravessar as janelas para entrar no quarto onde ela dorme sem quase tocá-la. Um pouco como a câmera que leva o espectador junto na travessia e invasão do "segundo quadro" formado pelas esquadrias das janelas e portas freqüentemente presentes em várias tomadas do filme.
E que tomadas! Os enquadramentos são admiráveis, os movimentos de câmera adequadíssimos, os planos se sucedem e se alternam numa edição brilhante porque harmônica, quase “musical”. O roteiro, habilmente, transita em dois tempos distintos que só aos poucos vão se definir com mais clareza em termos cronológicos.
O amargor da história narrada é amplamente compensado pelo prazer estético que proporciona ao espectador. É um filme que se faz prioritariamente da luz, por vezes muito sombria, em outros momentos contrastando os interiores escuros com a intensa luminosidade externa que se vê através das portas e janelas abertas. Um desses planos, com lençóis brancos pendurados ao ar livre sobre um terreno branco pela neve seria para emoldurar. Quando em outra tomada, à noite, ele se enrola inadvertidamente em uma cortina de tule, em contraluz, dá vontade de aplaudir.
Os dois atores se mostram à altura da direção exemplar, com mais oportunidades para Artur Steranko, admirável como