O ménage-à-trois entre cinema, teatro e vida na obra de Domingos Oliveira atinge um de seus pontos culminantes em Juventude. Obra de maturidade, permite-se ser jovial como poucas. Filme de homens, é feminino ao tematizar a hesitação e a vulnerabilidade aos sentimentos, além de ser repleto de mulheres “fora do quadro”.
Domingos, Paulo José e Aderbal Freire-Filho não são meros atores nessa comédia filosófica sobre as virtudes e as falências do envelhecimento. Eles são o próprio material de que se constrói o filme, seja pelo que contribuíram com histórias pessoais, seja pela interação de velhos amigos vivendo quase a si próprios diante da câmera de Dib Lutfi. Três amigos de infância – um judeu rico, um dramaturgo famoso e um cardiologista fracassado – se reencontram para comer, beber e fazer um balanço de suas vidas. No pano de fundo, em belíssimas passagens intertextuais, a clássica peça A Ceia dos Cardeais, do português Julio Dantas.
Nada mais básico do que dinheiro, saúde, amizade e amor como tema de uma conversa. Nada melhor para detonar as reflexões agudas e o humor profundo do autor, que planta em nossa memória algumas tiradas inesquecíveis. A cada novo filme, Domingos reafirma seu pouco caso pela técnica como fetiche. Tudo está ali a serviço do texto e dos atores. Nesse despojamento reside outro tanto de sabedoria. As confissões dos três velhos guerreiros vão aos poucos deixando claro que viver é tanto conquistar quanto saber renunciar em troca de nós mesmos.
JUVENTUDE
Brasil, 2008
Direção, roteiro e direção musical: DOMINGOS OLIVEIRA
Fotografia: DIB LUTFI
Montagem: NATARA NEY
Direção de arte: RONALD TEIXEIRA
Elenco: PAULO JOSÉ, DOMINGOS OLIVEIRA, ADERBAL FREIRE-FILHO, ALETA VIEIRA
Duração: 72 minutos