A alcunha de provocador se transformou em uma faca de dois gumes para o diretor Oliver Stone. Durante muito tempo, sobretudo no período entre Salvador (1986) e Nixon (1995), os seus filmes eram aguardados tanto por crítica quanto público pelo caráter explosivo de denúncias e o levantamento acurado de teorias de conspiração, como no caso de uma resposta para a morte de Kennedy em JFK (1991). Mas a partir de um determinado momento, a sua carreira iniciou uma curva descendente e também uma mudança de rumo que envolveu uma aproximação com o documentário (Comandante, sobre Fidel Castro) e projetos fracassados em uma tentativa desesperada para atrair a atenção de outrora: um beijo entre homens no século XXI (Alexandre) não provoca nenhuma reação nos dias de hoje, e soa extremamente frágil a proposta de Stone em restabelecer os louros do passado sem que desenvolva os filmes para além da simples escolha de um tema espinhoso. Parece que uma máscara caiu e nada do que tem feito nos últimos anos interessa minimamente nem ao espectador comum quanto mais ao articulista político de esquerda, que tanto prezava seu trabalho.
As Torres Gêmeas (2006) é um drama de pobreza estética e de grande superficialidade a respeito do fatídico ataque terrorista em 11 de setembro de 2001. Mas a principal crítica feita ao filme era sobre a sua estrutura melodramática, que não é nem de longe um elemento estranho ao cinema de Stone; vide a relação entre o soldado e uma garota vietnamita em Entre o Céu e o Inferno (1993), e toda a emoção que envolve o registro da vida de um ex-soldado do Vietnã em Nascido em 4 de Julho (1989), que se encontra aleijado. Oliver sempre se apoiou na psicologia e no melodrama para criar seus trabalhos, em especial, no choque das relações interpessoais, que vão adquirir o mesmo peso que o tema. Portanto W. (2008) é tanto o retrato político do ex-presidente George W. Bush quanto de sua relação problemática com o pai. Esta é mediada por um desejo infantil, bem à luz de um divã, de provar para a figura paterna de que ele é capaz de realizar algo na vida.
Ao contrário do que se pensa, a crítica ao homem e governante Bush está inteiramente inserida em W. desde seus primeiros planos, mas Stone opta pelo caminho mais fácil: criar uma caricatura de George, ainda que o ator Josh Brolin dê corpo e alma ao personagem, com a qual todos se identificam – um sujeito de pouco instrução, bem ao estilo caipira, que não tinha estofo intelectual para comandar a nação americana e justificar a invasão ao Iraque e toda a sua guerra ao terror. É nesse estereótipo à la revista Mad com o formato de esquetes cômicos do Casseta e Planeta ou Saturday Night Live que se escora grande parte da narrativa. Esta não apresenta fluência em inúmeras elipses e flashbacks que somente reafirmam esse caráter episódico que se instaura em W.. Apesar de todo o esforço do elenco, que emula de maneira convincente a equipe governamental, com direito a direção de arte bem cuidada e maquiagem sutil.
Não é preciso ser superficial para retratar um personagem destituído de brilho. Ao optar por essa repetição de forma e conteúdo, Oliver coloca seu cinema na mesma altura do retratado e faz mais um filme mergulhado na mediocridade de intenções que gera apenas indiferença. O único dado curioso é que W. pode se tornar uma peça de revisão para daqui a 20 anos a respeito do governo desastroso de Bush, mas para o cinema de hoje é nada.
# W. (W.)
Alemanha/Austrália/EUA/Hong Kong/Inglaterra, 2008.
Direção: OLIVER STONE
Roteiro: STANLEY WEISER
Fotografia: PHEDON PAPAMICHAEL
Montagem: JOE HUTSHING e JULIE MONROE
Produção: BILL BLOCK e MORITZ BORMAN
Elenco: JOSH BROLIN, TOBY JONES, JAMES CROMWELL, RICHARD DREYFUSS, THANDIE NEWTON e SCOTT GLENN
Duração: 129 minutos
Site oficial: http://www.wthefilm.com/