Críticas


BEIJO NA BOCA, NÃO!

De: ALAIN RESNAIS
Com: PIERRE ARDITI, SABINE AZÉMA, LAMBERT WILSON, AUDREY TAUTOU
07.05.2009
Por Daniel Schenker
EXEMPLAR TEATRO CINEMATOGRÁFICO

Várias características do cinema praticado por Alain Resnais podem ser reconhecidas em Beijo na Boca, Não! , transposição cênica da opereta homônima, escrita em 1925 por André Barde e Maurice Yvain. Esta produção de 2003 – realizada, portanto, entre Amores Parisienses e Medos Privados em Lugares Públicos -, que desembarca com considerável atraso no circuito brasileiro, traz marcas conhecidas do diretor, como o aproveitamento do contraste cômico entre americanos e franceses, o investimento no campo musical e a utilização de espaços fechados. Apesar disto, o resultado alcançado esbanja vitalidade.



Logo nas passagens iniciais, algumas qualidades do cineasta são evidenciadas diante do espectador, a exemplo da habilidade em trabalhar com o afetado, o artificial. Os personagens ostentam joias, trajam vestidos brilhosos e exuberantes, transitam por uma cenografia notadamente fake, comem (na verdade, olham mais do que comem) doces açucarados. A cor adquire especial importância, de acordo com a disposição de tons pelas poucas ambientações.



Em dois atos bem marcados (o primeiro localizado em salas acopladas e o segundo, menor, numa garçonière), Resnais dá vazão a divertidos encontros e desencontros amorosos a partir do momento em que Gilberte Valandray (Sabine Azéma) decide esconder do marido, o industrial Georges (Pierre Arditi), que foi casada anteriormente – com Thomson (Lambert Wilson), americano que chega para tratar de negócios. Resnais cria saborosas passagens musicais: em especial, entre Gilberte e Thomson e entre ele e as moças que insistentemente pedem um beijo.



Em meio a um elenco que conta com as presenças de Isabelle Nanty, Jalil Lespert, Daniel Prévost e Audrey Tautou, vale destacar a participação de Darry Cowl, como Madame Foin. A graça também predomina nas sátiras às vanguardas e a certo estereótipo de teatro experimental. Ingredientes de uma deliciosa brincadeira que inclui o espectador, tendo em vista que os atores constantemente olham para a câmera e conversam com o público chegando, vez por outra, a pedir sua cumplicidade. Além de “atualizar” um gênero de época, como a opereta, Alain Resnais evoca, a partir de um procedimento cinematográfico, uma relação direta, em tempo presente, como no teatro.



# BEIJO NA BOCA, NÃO!

França, 2003

Direção: ALAIN RESNAIS, a partir de opereta de ANDRÉ BARDE (libreto), MAURICE YVAIN

Produção: BRUNO PÉSERY

Fotografia: RENATO BERTA

Elenco: PIERRE ARDITI, SABINE AZÉMA, LAMBERT WILSON, AUDREY TAUTOU

Duração: 115 minutos

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário