Críticas


DUPLICIDADE

De: TONY GILROY
Com: JULIA ROBERTS, CLIVE OWEN, PAUL GIAMATTI, TOM WILKINSON e ULRICH THOMSEN
16.06.2009
Por Leonardo Luiz Ferreira
AUTOR BOM É AUTOR MORTO

Um roteirista irregular é alçado a posição de um diretor promissor devido a sua estreia atrás das câmeras com Conduta de Risco (2007). Essa é uma breve súmula da carreira de Tony Gilroy, que cometeu atrocidades, como a adaptação de Armaggedon (1998), de Michael Bay, e o roteiro de Prova de Vida (2000), de Taylor Hackford – um filme constrangedor que só recebeu fama por causa do affair entre suas estrelas, Meg Ryan e Russell Crowe. Até as boas adaptações dos romances de Robert Ludlum na trilogia A Identidade Bourne, Gilroy não podia aspirar saltos maiores e vivia à sombra de seu renomado pai, Frank D. Gilroy, que recebeu um Pulitzer. Só que a consagração em torno de seu nome é algo difícil de se compreender, já que Conduta de Risco, que recebeu sete indicações ao Oscar, nada mais é do que um thriller medíocre com a pretensão de ser uma pensata sobre o mundo globalizado. Porém, fracassa no artesanato básico de criar tensão, como no cinema de Alan J. Pakula (Todos os Homens do Presidente, 1976), e na seriedade extrema de seu texto, bem distante da malícia e astúcia de Sydney Pollack (Três Dias do Condor, 1975), que apadrinhou Gilroy em sua empreitada, e da ironia corrosiva de Queime Depois de Ler (2008), de Ethan e Joel Coen.



O suspense Duplicidade é o resultado catastrófico do que o status de novo autor pode levar: uma egotrip pessoal em que todos que participaram do projeto podem ter se divertido, mas o espectador não. E Gilroy parece ter plena convicção de que realiza um grande trabalho ao reforçar a todo instante a sua assinatura no script, que é todo esquemático, e, na verdade, remete a um dos piores trabalhos do diretor David Mamet, O Assalto (2001), em que as inúmeras reviravoltas na trama só evidenciam o ridículo de sua proposta. Porque Tony está tão seguro de si que resolveu fazer um filme, que analisado friamente, vai à contramão de todos seus trabalhos anteriores: uma narrativa supostamente irônica a respeito das grandes corporações e o jogo de interesses que as envolvem. É como se alguém decidisse dirigir um pastiche do trabalho de Gilroy, entretanto, nesse caso é ele mesmo que realiza.



O cineasta pretende emular as duplas românticas da Hollywood dos anos 50 e 60, como Audrey Hepburn e Cary Grant, ao explorar os atores Julia Roberts e Clive Owen, que são opostos que se atraem. Mas o diretor destitui qualquer brilho individual por parte do elenco e os transforma em meros fantoches que obedecem aos ditames de um jogo que se pretende inteligente, mas apenas aborrece em suas inúmeras idas e vindas, que deveriam delinear novas facetas dos personagens. Porém, o interesse está em um senso de descoberta; em reafirmar a esperteza dos diálogos e de que, sobretudo, existe um autor por trás de cada cena. Algo semelhante aconteceu com Charlie Kaufman - que depois de ser superestimado por todos os roteiros que escreveu, como Quero Ser John Malkovich (1999) – dirigiu o insuportável Sinédoque, Nova York (2008), em que tenta ser tão original, algo que realmente ele nunca foi, pois seus scripts dialogam com o contemporâneo e a metalinguagem, que acaba se esquecendo de todo o resto.



A narrativa de Duplicidade é apresentada de maneira não-linear, que é exatamente a escolha óbvia para Gilroy manipular seus personagens e consequentemente o espectador, que de tanto assistir a tais tipos de produção não terá problemas em decodificar a ação. É nesse sentido que o filme parece menosprezar quem assiste em detrimento de um deleite pessoal de seu diretor, que não sabe entreter nem mesmo provocar reflexão. Mas as portas parecem estar sempre abertas para autores limitados e, que ainda assim, são consagrados por méritos que não têm.



# DUPLICIDADE (Duplicity)

EUA, 2009.

Direção e roteiro: TONY GILROY

Fotografia: ROBERT ELSWIT

Montagem: JOHN GILROY

Produção: KERRY ORENT, JENNIFER FOX e LAURA BICKFORD

Elenco: JULIA ROBERTS, CLIVE OWEN, PAUL GIAMATTI, TOM WILKINSON e ULRICH THOMSEN

Duração: 125 minutos

Site Oficial: http://www.duplicitymovie.net/





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