Críticas


HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO

De: PHILIPPE CLAUDEL
Com: KRISTIN SCOTT THOMAS, ELSA ZYBERSTEIN, LISE SÉGUR
29.06.2009
Por Luiz Fernando Gallego
ABACAXI EM PELE DE MORANGUINHO

Não se trata de um drama carcerário (gênero em que tudo se passa em prisão), mas o enredo cairia bem em dramalhões mexicanos que exploravam o tema de mulheres condenadas, passando o diabo por seus crimes – algumas mais vítimas do que malvadas. Ou mesmo em – hoje em dia incríveis – novelas radiofônicas transmitidas no meio da tarde na Rádio Nacional dos anos 1950, quando dezenas de historietas melodramáticas se sucediam em um programa que se chamava “Presídio de Mulheres”.



Fica bastante difícil dizer o porquê de Há Tanto Tempo que te Amo ser um abacaxi sem revelar muito da trama: em princípio, basta dizer que há uma sucessão de desgraças acumuladas na vida da personagem ‘Juliette’ interpretada por Kristin Scott Thomas. Núcleo do filme, a sempre marcante atriz se vê condenada a exibir quase todo o tempo sua mímica de desalento com passagens de “nem estou aí”, alternando rompantes de raiva com profunda tristeza. Recebeu prêmios por este papel, tal como Bette Davis, sem um diretor que a domasse, impressionava por “overacting” nos melodramas da Warner Brothers. Kristin é o oposto, não escorrega em “overacting”, mas seu “underacting” (vale um neologismo?) já esteve a serviço de melhores filmes e personagens.



Os fatos vão sendo revelados (sem flashbacks, pelo menos!) de modo que gradualmente o espectador ficará sabendo, de início, apenas que se trata do reencontro de irmãs que não se viam há 15 anos, sendo a bem mais jovem ‘Léa’ vivida por Elsa Zylbestein. Logo em seguida, surge a informação de que a mais velha esteve cumprindo pena – e longa! O resto, não será revelado sem aviso prévio para os que pretendem ver o filme, exceto que o motivo da pesada condenação de ‘Juliette’ teria sido um crime daqueles considerados “imperdoáveis” – provavelmente mais do que por terceiros, pela própria ‘Juliette’.



Inicialmente a direção do estreante Phlippe Claudel busca uma breve elegância que seu roteiro não tem: talvez como atenuante do melodramalhão que se seguirá, um formato cosmético para fazer de conta que o abacaxi com casca é um moranguinho tenro. Falando em “moranguinho”, também parece que se tenta “atenuar” a desgraceira com uma espevitada mini-atriz de traços orientais que “adoça” o filme no papel de uma das filhas vietnamitas adotadas por ‘Léa’.



Mas as primeiras cenas, tomadas e ângulos que mimetizam discrição não passam de verniz que se quebra sob uma musiquinha repetida (sempre esse recurso a melodias melosinhas reiteradas como no superestimado A Partida, quase um “primo próximo” deste filme na linha do melodrama “cool”). Um certo tédio narrativo se impõe, apesar dos “segredos” que vão sendo revelados paulatinamente como recurso para prender o espectador - tal como as antigas rádio-novelas criavam “ganchos” de revelações “surpreendentes- OH!” em cada final de capítulo visando manter a curiosidade do ouvinte para escutar o episódio seguinte.



O responsável por este filme é roteirista, escritor e professor de literatura, mas seu roteiro e direção estreante não o recomendam. A introdução forçada de uma discussão entre a personagem ‘Léa’, que também dá aulas de literatura, com um aluno sobre “Crime e Castigo” castiga é a atriz com uma cena em que ela descompensa aos berros questionando se Dostoievski ou romances obras-primas sabem o que é de fato um crime, um assassinato. Como se este P. Claudel soubesse mais do que o mestre russo...



ATENÇÃO: no parágrafo seguinte serão comentados aspectos do enredo que podem não ser do interesse para quem ainda pretenda ver este filme.



O que o filme tenta para sustentar e envolver a atenção da platéia acaba sendo uma indigesta soma que mistura condenação por assassinato (tendo este sido cometido contra uma criança – e pior! - o filho mesmo da personagem! OH!), com a difícil saída da prisão e fase de readaptação ao mundo, “temperada” pelo fato de que a mãe das irmãs está sofrendo de Alzheimer (cena patética de reencontro, reconhecimento e desconhecimento com rejeição e agressividade), revelação de que a irmã mais nova “não quis gerar um filho biológico” (culpa de quem? – de quem???), além do suicídio de depressivo (e chato) policial legal que cuidava da “condicional” da ex-presidiária... até a revelação final de que a então médica (sim! a personagem era médica!) praticara uma espécie de eutanásia, talvez precoce para protocolos de ética médica, em seu filhinho com grave doença mortal que ela mesma diagnosticara (Ahhh...!)- mas nem usara desta informação para qualquer eventual atenuante de defesa que, entretanto, tenta-se comunicar à platéia – tal como em vetustos filmes com as Marias Félix, Libertad’s Lamarque ou Saras Montiel: no fundo, no fundo, os crimes dessas atrizes (ou apenas estrelas) têm que ter uma “justificativa”...



# HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO (IL Y A LONGTEMPS QUE JE T’AIME)

França/Alemanha, 2008

Direção e Roteiro: PHILIPPE CLAUDEL

Fotografia: JÉRÔME ALMÉRS

Edição: VIRGINIE BRUANT

Música: JEAN-LOUIS ALBERT

Elenco: KRISTIN SCOTT THOMAS, ELSA ZYBERSTEIN, LISE SÉGUR

Duração: 117 minutos

Site oficial: http://www.ilyalongtempsquejetaime-lefilm.com/

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