Críticas


ALÔ ALÔ TERESINHA

De: NELSON HOINEFF
04.11.2009
Por Carlos Alberto Mattos
CELEBRAÇÃO TRASH DE UMA MEMÓRIA

Gosto de me pensar como uma pessoa politicamente correta – ou pelo menos que almeja sê-lo. Não me envergonho disso. Acho que a correção política é uma conquista, não uma praga dos nossos tempos. Não compartilho da campanha contra o politicamente correto, movida pelos cínicos de plantão. Para mim, ela é parte do relativismo selvagem e da canalhice da-boca-para-fora que soam moderninhos por aí.



Portanto, a julgar pelo que tenho ouvido de gente que respeito, tinha tudo para odiar Alô Alô Teresinha. E se odiasse, estava disposto a crivar o filme de balas politicamente corretas, mesmo sendo amigo e colega de profissão do diretor, o também crítico Nelson Hoineff. Qual não foi minha surpresa quando isso absolutamente não aconteceu.



Na sua frontal opção pelo trash – e Chacrinha é um predecessor desse rótulo entre nós –, Alô Alô Teresinha nos obriga a assisti-lo numa determinada perspectiva. Tudo é trash no filme, do trabalho de câmera à montagem que busca sofregamente o efeito caricatural. Passando, principalmente, pela fauna de personagens que representavam o universo do Velho Guerreiro. Quem subia ao palco do Chacrinha sabia o que o esperava. O que o filme propõe a seus performers é uma atitude semelhante, um misto de exibicionismo e inocência que não é anacrônico, mas apenas anda distante da grande mídia atual.



Hoineff lança a famosos e anônimos o mesmo olhar de bisbilhoteiro. Não há hierarquias nem privilégios. Um dos momentos de maior hilaridade na plateia onde eu estava, no Unibanco Arteplex, foi quando Gilberto Gil tenta explicar intelectualmente o humor. O riso era a rejeição ao didatismo num contexto em que isso não cabia.



Não há entrevistas ou depoimentos em Alô Alô Teresinha, mas só performances. As pessoas se oferecem com gosto a essa celebração de uma memória. É fácil apontar os excessos de Hoineff, como o duelo de gagos ou o desconexo desabafo amoroso de Vera Furacão alternando-se com o canto de Almir Fon-Fon. É discutível abrir o microfone para a maledicência e a “entrega” de namoros clandestinos, embora isso não costume ser criticado em biografias escandalosas, mas ungidas pelo “bom gosto”.



Afora alguns poucos momentos, não tive a impressão de que o filme estivesse traindo a confiança dos personagens. Ao invés disso, parecia servir a um desejo de permanência e a um tipo de vaidade ingênua e/ou cara-de-pau. Há, certamente, uma preferência por tipos fronteiriços e excêntricos, mas me pergunto se não é isso mesmo o que fazia o carisma e o sucesso do Cassino do Chacrinha.



O pretexto de emular o espírito anárquico do programa não basta para justificar a estrutura um tanto pobre do filme, que se limita a cotejar personagens no passado e no presente. Mas isso não reduz – talvez até amplie – o seu poder de comunicação, sobretudo na exibição coletiva. Chego a compreender a opção de Nelson Hoineff por não mostrar o filme em cabines para críticos. Imaginem o Chacrinha chamando a Teresinha diante de meros cinco ou seis jornalistas.



Nesse como em qualquer outro caso, o excesso de correção política tende a cegar. O reencontro com essas ex-chacretes, ex-calouros, ex-jurados, ex-técnicos e ex-trelas põe na nossa cara um tipo de comportamento que não se extinguiu. Apenas ficou recolhido a subúrbios, cidades do interior e outros segmentos de um Brasil desproduzido.





ALÔ ALÔ TERESINHA

Brasil, 2008

Direção:
NELSON HOINEFF

Roteiro: NEWTON CANNITO, NELSON HOINEFF

Fotografia: GUILHERME SUSSEKIND

Montagem: DANIEL MAIA, DIANA GÂNDRA E FELIPE PAES

Duração: 95 minutos

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