Com 250 mil espectadores nas duas primeiras semanas, Besouro vem confirmando seu apelo nas bilheterias. Sem contar o sucesso nos piratões dos camelôs, onde é um hit. O desdém da maior parte da crítica já era de se prever. Não temos uma cultura de filmes do gênero aventura épico-mítico-histórica. Tendemos a rejeitar espetáculos que se pretendem grandiosos, com técnicas importadas e sem justificativas sociológicas eloquentes. Ouvi, por exemplo, comparações irônicas como “Quilombo 2 – A Missão”.
Mas Besouro corre em pista bem diferente. É aventura destinada a um público diversificado, que inclui o infanto-juvenil. A formação do mítico capoeirista baiano é contada como uma história de mestre e discípulo na linha Karatê Kid. O surgimento do herói se dá à base de culpa por um descuido na proteção ao mestre. Seus poderes sobrenaturais vêm do encontro com um Exu que reúne traços de guerreiros africanos, orientais e medievais. A rivalidade entre colonizadores brancos e lavradores e serviçais negros tem o sabor um tanto esquecido dos nordesterns. Já as lutas de Besouro ganham o caráter vertiginoso de O Tigre e o Dragão, tendo bananeiras no lugar dos bambuzais de Ang Lee.
Ungido por Exu, Besouro é capaz de incorporar-se em outras pessoas e transmitir sua força. Mas tem um ponto fraco, a sua kryptonita. Esse talvez seja o primeiro superherói afro-brasileiro explícito do cinema, o oposto da sátira subdesenvolvida encarnada pelo Superoutro de Edgar Navarro. Aqui a técnica aspira o top de linha da aventura contemporânea, com imagens de tirar o fôlego. É admirável como o filme integra a alta tecnologia com elementos da natureza tropical. Basta ver a importância dos rios, ventos, fogo, animais e paisagens brasileiros no protagonismo da trama.
Não fosse o roteiro fragmentado demais, eu teria sido mais incisivo na defesa do filme na comissão de seleção do Oscar. João Daniel Tikhomiroff quer dialogar com o cinema de gênero internacional sem deixar de fazer um filme mestiço bem brasileiro. Besouro deve ser prestigiado não apenas por ser nosso, mas por ser um belo e luxuriante espetáculo popular.
BESOURO
Brasil, 2009
Direção: JOÃO DANIEL TIKHOMIROFF
Roteiro: PATRÍCIA ANDRADE, JOÃO DANIEL TIKHOMIROFF, inspirado livremente no livro Feijoada no Paraíso, de Marco Carvalho.
Fotografia: ENRIQUE CHEDIAK
Montagem: GUSTAVO GIANI
Direção de arte: CLAUDIO AMARAL PEIXOTO
Música: RICA AMABIS, PUPILLO, TEJO, GILBERTO GIL
Elenco: AÍLTON CARMO, ANDERSON SANTOS DE JESUS, JESSICA BARBOSA, FLAVIO ROCHA, IRANDHIR SANTOS
Duração:
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