Críticas


BESOURO

De: JOÃO DANIEL TIKHOMIROFF
Com: AÍLTON CARMO, ANDERSON SANTOS DE JESUS, JESSICA BARBOSA
13.11.2009
Por Carlos Alberto Mattos
ELE VOA!

Com 250 mil espectadores nas duas primeiras semanas, Besouro vem confirmando seu apelo nas bilheterias. Sem contar o sucesso nos piratões dos camelôs, onde é um hit. O desdém da maior parte da crítica já era de se prever. Não temos uma cultura de filmes do gênero aventura épico-mítico-histórica. Tendemos a rejeitar espetáculos que se pretendem grandiosos, com técnicas importadas e sem justificativas sociológicas eloquentes. Ouvi, por exemplo, comparações irônicas como “Quilombo 2 – A Missão”.



Mas Besouro corre em pista bem diferente. É aventura destinada a um público diversificado, que inclui o infanto-juvenil. A formação do mítico capoeirista baiano é contada como uma história de mestre e discípulo na linha Karatê Kid. O surgimento do herói se dá à base de culpa por um descuido na proteção ao mestre. Seus poderes sobrenaturais vêm do encontro com um Exu que reúne traços de guerreiros africanos, orientais e medievais. A rivalidade entre colonizadores brancos e lavradores e serviçais negros tem o sabor um tanto esquecido dos nordesterns. Já as lutas de Besouro ganham o caráter vertiginoso de O Tigre e o Dragão, tendo bananeiras no lugar dos bambuzais de Ang Lee.



Ungido por Exu, Besouro é capaz de incorporar-se em outras pessoas e transmitir sua força. Mas tem um ponto fraco, a sua kryptonita. Esse talvez seja o primeiro superherói afro-brasileiro explícito do cinema, o oposto da sátira subdesenvolvida encarnada pelo Superoutro de Edgar Navarro. Aqui a técnica aspira o top de linha da aventura contemporânea, com imagens de tirar o fôlego. É admirável como o filme integra a alta tecnologia com elementos da natureza tropical. Basta ver a importância dos rios, ventos, fogo, animais e paisagens brasileiros no protagonismo da trama.



Não fosse o roteiro fragmentado demais, eu teria sido mais incisivo na defesa do filme na comissão de seleção do Oscar. João Daniel Tikhomiroff quer dialogar com o cinema de gênero internacional sem deixar de fazer um filme mestiço bem brasileiro. Besouro deve ser prestigiado não apenas por ser nosso, mas por ser um belo e luxuriante espetáculo popular.



BESOURO

Brasil, 2009

Direção:
JOÃO DANIEL TIKHOMIROFF

Roteiro: PATRÍCIA ANDRADE, JOÃO DANIEL TIKHOMIROFF, inspirado livremente no livro Feijoada no Paraíso, de Marco Carvalho.

Fotografia: ENRIQUE CHEDIAK

Montagem: GUSTAVO GIANI

Direção de arte: CLAUDIO AMARAL PEIXOTO

Música: RICA AMABIS, PUPILLO, TEJO, GILBERTO GIL

Elenco: AÍLTON CARMO, ANDERSON SANTOS DE JESUS, JESSICA BARBOSA, FLAVIO ROCHA, IRANDHIR SANTOS

Duração:

Site oficial: clique aqui



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