Musicais colaboram muito para uma visão mais completa do cinema e uma visão mais saudável do mundo. Este é um dogma que assumo sem hesitar. Sem musicais, o cinema perderia, para mim, grande parte do seu encantamento. Falo de Berkeley, de Donen, de Minnelli, de Gene Kelly e Fred Astaire. Sem eles, a vida seria muito pior.
Foi recentemente que percebi que os musicais old fashioned estavam vivíssimos. Vi o High School Musical original quando minha filha, então com seis anos, já o tinha visto pela terceira ou quarta vez. Para minha surpresa, gostei da coreografia, das musicas, da simplicidade, do frescor. Vi muitas vezes as duas outras partes, também guiado pela Alice - e devo confessar que continuei gostando. A primeira parte continuamos vendo uma vez por semana.
São filmes despretensiosos, feitos para adolescentes, mas que respeitam sua audiência com boas músicas, um humor discreto, situações bem construídas – geralmente em torno de avatares da música, do teatro e do esporte - e, quase sempre, coreografias energéticas e criativas. Filmes “feitos para adolescentes”, diga-se de passagem, parecem hoje agarrar as crianças de corpo inteiro. Hannah Montana é feito para adolescentes; A Galera do Surfe também – e uma dezena de títulos praticamente iguais. Em todos, os personagens tem de 15 a 18 anos. Mas todos estão na lista das obrigatoriedades de Alice. Suspeito que as crianças se projetem na imagem das pós-crianças. Não sei se esta é uma teoria amparada pelos pedagogos, mas posso garantir que é o que acontece no cinema e na televisão. E os efeitos são muito positivos.
High School Musical – o Desafio é a franquia brasileira, e deve ser entendida como tal. A história é a mesma, a locação também, assim como os personagens - e o conceito das musicas e das danças não se altera. Poderia ser tosco, falso - mas não é. Quem disser que o filme carece de “brasilidade” estará lhe fazendo um elogio. É o universo do High School que carece do que é ruim.
No High School brasileiro a escola é o Riocentro por inteiro. As pessoas são felizes, bonitas e não existem bandidos por perto. Os limites dos conflitos possíveis estão entre ser vitoriosos jogando futebol ou cantando, entre conseguir ou não conseguir explicar à namorada que não deu para ligar. Isso é feito com boa música e boa dança. E, francamente, quem achar que este não é um grande bem que o cinema faz a nós, deve ter algum problema.
O High School brasileiro revela um modelo eficientíssimo de produção, que sua produtora vem tocando já há um bom tempo. E entrega plenamente a sua franquia. Faz isso com maestria - e seria tão injusto quanto impertinente esperar dele algo que ele não se propõe a fazer.
Na parte final do filme, percebi que os olhos de Alice, hoje com 8, estavam brilhando (isso confirma como os franchisings para adolescentes pegam direto as crianças). Só então percebi que meus próprios olhos estavam marejados. É claro: eu conheci aquela turma, gostei de ser parte dela, tenho orgulho disso e uma indisfarçável alegria de vê-la por perto.
Podemos discutir se o roteiro poderia ser mais refinado, se a coreografia e a música poderiam ter ido mais longe. Poderíamos discutir o que quiséssemos. Mas a questão essencial é uma só: se os meus olhos ficaram brilhando, e os da Alice também, o que mais o High School brasileiro poderia ter feito por nós?
# HIGH SCHOOL MUSICAL – O DESAFIO
Brasil, 2010
Direção: César Rodrigues
Roteiro: Suzana Cardoso e Pablo Lago, baseado em adaptação de Carol Castro
Fotografia: José Roberto Eliezer
Direção de Arte: Marcos Flaksman
Música: Guto Graça Mello
Elenco: Olavo Cavalheiro , Renata Ferreira , Paula Barbosa , Fellipe Guadanucci , Moroni Cruz
Duração: 90 minutos