E Clint Eastwood finalmente perdeu a invencibilidade como diretor mantida desde o ótimo Sobre Meninos e Lobos, de 2003. De lá pra cá, ele fez Menina de Ouro, A Conquista da Honra, Cartas de Iwo Jima (que recebi com ressalvas, mas foi bastante elogiado pela crítica em geral), A Troca e finalmente Gran Torino, melhor filme de 2009. Prestes a completar 80 anos, ele anunciou sua aposentadoria como ator, mas como diretor sua carreira prossegue a toda velocidade.
Talvez a pressa tenha feito Invictus, uma bela homenagem a Nelson Mandela, deixar a desejar como cinema. Ao invés da sutileza e refinamento habituais do diretor, o filme está recheado de diálogos redundantes e situações-clichê de obras de temática racial, como as mudanças de comportamento na família preconceituosa do jogador de rugby e a superação de desavenças entre os seguranças brancos e negros do presidente.
Mesmo assim, o Mandela impecavelmente incorporado por Morgan Freeman traz à luz aspectos bem interessantes do jogo de poder que envolve os bastidores da política. A personalidade carismática e conciliadora do presidente sul-africano, em contraste com o ambiente da cultura do ódio que o antecedeu, permite ainda paralelos com a chegada de Obama ao poder nos EUA. Mesmo que a questão da família de Mandela seja tratada de forma superficial, o roteiro consegue explorar bem o aspecto singular que envolve a utilização do rugby por Mandela como instrumento de união nacional e fortalecimento político.
Pena que, da metade para o fim, o que se veja é a velha fórmula do filme de competições esportivas que Hollywood adora, com todas as situações previsíveis que acompanham a jornada de superação até o jogo decisivo. Com direito a uma corujice explícita de Clint ao escalar seu filho Scott como o jogador-artilheiro.
# INVICTUS
EUA, 2009
Direção: CLINT EASTWOOD
Roteiro: ANTHONY PECKHAM, JOHN CARLIN
Fotografia: TOM STERN
Edição: JOEL COX E GARY ROACH
Música: KYLE EASTWOOD, MICHAEL STEVENS
Elenco: MORGAN FREEMAN, MATT DAMON, JULIAN LEWIS JONES
Duração: 133 min.