Críticas


FIM DA ESCURIDÃO, O

De: MARTIN CAMPBELL
Com: MEL GIBSON, RAY WINSTONE, DANNY HUSTON, SHAWN ROBERT, DENIS O´HARE.
09.02.2010
Por Leonardo Luiz Ferreira
O TROCO

Independente de Mel Gibson ter chamado mais atenção fora das telas na última década, a avaliação deve sempre se fixar ao trabalho e nunca envolver o aspecto pessoal. Isso posto, O Fim da Escuridão (2010), de Martin Campbell, é o melhor momento do ator em muito tempo, que optou pelo isolamento da indústria hollywoodiana e se afastou do estrelato desde Sinais (2002), de M. Night Shyamalan, para se dedicar a projetos catastróficos atrás das câmeras, como A Paixão de Cristo (2004) e Apocalypto (2006). Nestes, Gibson revelou uma faceta obscura de sua personalidade, com demonstrações de misantropia, se utilizando de ferramentas grosseiras e de maniqueísmo extremo. Portanto, esse retorno à interpretação pode significar um indício de desejo de mudança de imagem por parte do astro. Mas ele mesmo deixou claro que não vai abandonar a sua carreira como diretor.



O Fim da Escuridão é um policial de ambientação noir sobre o tema da vingança. O roteiro se estrutura a partir de uma premissa comum em que um policial presencia o assassinato da própria filha na porta de casa. Mas o que à princípio sugere que foi um ato de retaliação a alguma ação do passado vai se revelar, aos poucos, uma trama que mescla armas nucleares, ecologia e política. Tudo isso é demonstrado por um viés clichê e que é codificado de maneira direta pelo espectador. Mas o diretor Campbell nunca obteve êxito ao urdir complexidade narrativa, e sim é reconhecido por seu trabalho como esteta no cinema de corpo. Foi ele quem promoveu o recomeço da franquia de James Bond em Cassino Royale (2006). Dessa forma, O Fim da Escuridão se torna atraente pela condução de câmera, montagem e boas atuações que demonstram a eficiência de um realizador acima de um material limitado e corriqueiro.



Campbell imprime um verdadeiro senso de perigo iminente na obra em que a qualquer momento uma ação inesperada pode tomar de assalto o plano. É notável, nesse sentido, a sequência em que uma personagem desesperada é atropelada ao sair de um carro. Em poucos instantes e com um simples corte, a cena se torna extremamente forte. Além da boa construção de determinadas tomadas, O Fim da Escuridão traz Gibson em uma personificação melancólica e atormentada, com olhares que transitam entre o ódio e o medo em uma visceralidade que não demonstrava em seus últimos trabalhos. Ao seu lado, o eterno coadjuvante Ray Winstone, em papel que seria de Robert De Niro, cria um matador marcante, repleto de idiossincrasias e manias, que mesmo com pouco tempo de projeção permanece vívido nas cenas subsequentes. E isso é uma qualidade rara de se encontrar na atualidade em filmes de gênero.



A descida ao inferno, que tanto atormentou os personagens de Fritz Lang em sua fase americana, é retratada de maneira convincente, sobretudo, porque Martin vai privilegiar a atmosfera muito mais do que as conspirações e os diálogos extensos. O ponto principal é a ação de seus personagens em direção ao abismo para aplacarem sentimentos difusos. Apesar do desfecho conter uma crise exagerada de identidade e uma metáfora simplória sobre a morte, O Fim da Escuridão se estabelece como um thriller bem executado e de apuro estético por parte de seu realizador.



# O FIM DA ESCURIDÃO (EDGE OF DARKNESS)

EUA, 2010.

Direção: MARTIN CAMPBELL

Roteiro: WILLIAM MONAHAN & ANDREW BOVELL

Fotografia: PHIL MEHEUX

Montagem: STUART BAIRD

Trilha Sonora: HOWARD SHORE

Produção: GRAHAM KING, TIM HEADINGTON & MICHAEL WEARING

Elenco: MEL GIBSON, RAY WINSTONE, DANNY HUSTON, SHAWN ROBERTS & DENIS O´HARE

Duração: 117 minutos

Site Oficial: http://edge-of-darkness.warnerbros.com/



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