Críticas


HONENS QUE ENCARAVAM CABRAS, OS

De: GRANT HESLOV
Com: GEORGE CLOONEY, EWAN McGREGOR, JEFF BRIDGES, KEVIN SPACEY.
29.03.2010
Por Nelson Hoineff
O HOMEM QUE ATRAVESSAVA PAREDES

Imagine usar “I love you / you love me / we’re a happy family”, o tema do dinossauro Barney, como arma de tortura, repetida ao longo de um dia inteiro para os prisioneiros de guerra. Pode parecer irreal, é indiscutivelmente pavoroso, mas o jornalista e escritor Jon Ronson jura que isso é verdadeiro.



Se é ou não, só os prisioneiros iraquianos e seus torturadores poderão dizer. O fato é que os limites do possível, dentro de uma divisão das forças armadas dos EUA, são o tema dessa adaptação do livro que Ronson publicou em 2004. A divisão trata da utilização de forças paranormais na guerra. Na verdade, avança um pouco sobre a paranormalidade, para embrenhar-se no campo das experiências alucinógenas. O Dr. Timothy Leary é citado apenas uma vez, mas seu espírito está presente em muitas seqüências. Leary, como se sabe, foi expulso de Harvard por experimentar LSD com seus alunos. Diz a lenda que ele também despejou ácido lisérgico sobre a caixa d’água da Universidade. É o que faz Bill Django (Jeff Bridges) o chefe do "Exército da Nova Terra", sobre uma das unidades das Forças Armadas.



O Exército da Nova Terra treina soldados para exercitar seus poderes paranormais. O melhor destes soldados é Lyn Cassady (George Clooney). Ele foi treinado por Django para se tornar um guerreiro Jedi. É capaz de saber o que existe dentro de caixas fechadas, de matar cabras e hamsters com o poder do olhar e, em teoria, vencer todas as limitações físicas – atravessando paredes, por exemplo.



Ronson trafega entre o real e o imaginário. O Exército da Nova Terra não parece ter saído apenas de sua cabeça. Essa possibilidade, de que o Exército realmente tenha existido ou ainda exista, é um enigma que dá vigor à história. O Dr. Leary existiu – e se não jogou ácido na água de Harvard, deveria tê-lo feito.



Clooney e Bridges sabem exatamente do que estão falando. Como habitualmente, no olhar de Clooney está Leary. Já o filme dirigido por Grant Heslov é tímido para saborear as conseqüências de algo dessa natureza. Faz uma crônica de seus personagens e imprime às situações um inapropriado tom de M.A.S.H. A sensação é que os caricatos soldados sob efeitos do ácido são um produto residual das potencialidades de uma história onde, ao longo de várias guerras, os improváveis experimentos sobre a mente são escamoteados pela força das armas.



Logo no início do filme há uma cena magnífica em que Clooney, já general, informa a um soldado que vai para a sala ao lado. Nada poderia ser mais trivial, mas a particularidade é que o general dispara contra a parede. O soldado não se espanta - e aí está o tom prometido, que o filme acaba deixando de cumprir. Entre os créditos de Heslov está Esperando por Woody, de 1998, onde um ator fracassado ganha ânimo quando seu agente lhe consegue um encontro com Woody Allen. Creio que o que falta a seu filme é precisamente o humor lacônico que Allen ou, evidentemente, os irmãos Coen seriam capazes de emprestar a uma história onde Bridges ensina Clooney a atravessar paredes.



# Os Homens que Encaravam Cabras (The Men Who Stare at Goats)

Reino Unido, EUA, 2009

Direção: Grant Heslov

Roteiro: Pete Straughan, baseado em livro de Jim Ronson

Fotografia: Robert Elswit

Edição: Tatiana S. Riegel

Direção de Arte: Peter Borck

Música: Rolfe Kent

Elenco: George Clooney , Ewan McGregor , Jeff Bridges , Kevin Spacey , Stephan Lang

Duração: 94 minutos

Site oficial: http://www.themenwhostareatgoatsmovie.com

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