Críticas


MARY E MAX – UMA AMIZADE DIFERENTE

De: ADAM ELLIOTT
Com: TONI COLLETTE, PHLIP SEYMOUR HOFFMAN, ERIC BANA, BARRY HUMPHRIES
29.04.2010
Por Luiz Fernando Gallego
NUNCA TE VI, <i>NEM SEMPRE</i> TE AMEI

Mary e Max – Uma Amizade diferente é um elaborado filme de animação com desenvolvimento temático adulto, utilizando bonequinhos de massa que ganham impressão de movimento pelo processo conhecido como stop-motion: cada fotograma corresponde a um quadro, devendo ser fotografados em torno de 24 quadros por segundo para dar a sensação ótica ao espectador de que os bonecos de massa estão se mexendo. Esta técnica foi utilizada mais recentemente nos populares A Fuga das Galinhas, Wallace e Gromit, assim como por Tim Burton em Estranho Mundo de Jack e A Noiva Cadáver. Mas o que se chamou de “temática adulta” no caso de Mary and Max (título original) deve ser entendido como algo muito mais “adulto” do que as incursões de Tim Burton, especialmente quando ele decepciona com sua Alice bem mais infantilizada do que se poderia esperar da carreira de Burton com atração pelo grotesco.



O primeiro longa metragem do australiano Adam Elliott confirma o interesse deste diretor por temas e personagens bizarros, mas com o diferencial de jamais perder a ternura por suas criações. No premiado com o Oscar de melhor curta de animação (disponível no YouTube

http://www.youtube.com/watch?gl=AU&hl=en-GB&v=ouyVS6HOFeo), Harvie Krumpet (2003), havia síndrome de Tourette, câncer de testículo, nudez, Alzheimer e inclinação suicida - dentre outras vicissitudes humanas. Tudo isso, concentrado em vinte minutos.



Espalhados ao longo dos 80 minutos de Mary e Max a presença de Síndrome de Asperger, alcoolismo, inclinação suicida e outros quadros disfuncionais pode se tornar mais palatável. Até porque o início engana um pouco com a personagem feminina e sua ingenuidade ainda cabível em seus oito anos (ainda que nada poéticos). O tempo mostrará que Mary não é apenas naïve pela idade: pode até desenvolver teses de mestrado, mas também pode afundar em depressão grave e comportamento inadequado. Com Max as coisas não são mais simples: ele lembra até mesmo “fisicamente” o seu antecessor ‘Harvie Krumpet’ e também passa por diversas tentativas de atividades laborativas; aqui, as tentativas teriam que ser compatíveis com o diagnóstico de ‘Asperger’ e mais não diremos para não estragar as surpresas desconcertantes que o filme desenrola a cada momento.



Mas pode-se destacar um dos aspectos mais interessantes da estrutura narrativa do filme, que é tratar essencialmente de uma relação apenas epistolar. Existe um narrador (excelente, aliás: Barry Huphries), mas os dois personagens, ela na Austrália, ele em NY, só se comunicam através de cartas na era pré-email.



Se surge uma afinidade entre as duas distantes solidões, isso não evita rompantes e fases de afastamento doloroso para um ou/e outro correspondente. Esqueçam o afetuoso e amável 84, Charing Cross Road que teve surpreendente receptividade no Brasil com o arbitrário título Nunca te vi, sempre te amei. Os bonecos de massinha de Adam Elliott são mais humanamente contraditórios e complexos do que muitos personagens de tantos filmes artificiosos interpretados por atores de carne-e-osso.



A dublagem a cargo de Toni Colette (Mary já adulta), Bethany Withmore (Mary criança) e do sempre extraordinário Philip Seymour Hoffman (Max, em mais uma composição requintada, aqui apenas vocal) acompanham a excelência do perfil já bem definido visualmente (e pelo roteiro) dos tipos a que emprestam suas vozes. Visualmente, Mary até pode nos lembrar uma espécie de versão “não-pornô” de nossa famosa ‘Rê-Bordosa’ criada por Angeli e que também já teve seu momento de animação, ainda que menos sofisticada do que a deste longa que custou 5 anos de preparação incluindo 57 semanas só para a filmagem propriamente dita.



Além das possíveis idiossincrasias do diretor e roteirista (sua provável fascinação por personalidades excêntricas), a possível preocupação em se manter como um filme “adulto” de animação talvez faça, por vezes, que o enredo exagere em sua “mão pesada” de revezes da vida e humor negro. Mas não se pode dizer que não haja muitas vidas até com bem mais revezes do que as de Mary e Max.



# MARY E MAX – UMA AMIZADE DIFERENTE (MARY AND MAX)

Austrália, 2009

Direção e Roteiro: ADAM ELLIOTT

Fotografia: GERALD THOMPSON

Edição: BILL MURPHY

Direção de Arte: CRAIG FISON

Música: DALE CORNELIUS

Elenco: , RENÉE GEYER.

Duração: 80 minutos

Site oficial: http://www.maryandmax.com



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