José Joffily desenvolve bem a linguagem cinematográfica de Olhos Azuis e a direção de atores resulta em boas interpretações, aspecto importante para o enredo, especialmente nas muitas cenas que se passam no ambiente fechado de um departamento de imigração em aeroporto norte-americano.
Pena que o roteiro acredite tão pouco na capacidade da platéia acompanhar uma narrativa fílmica, preocupando-se em detalhar tudo, “explicar” tudo, reiterando tudo à medida que o filme prossegue e vai perdendo em qualidade. A conclusão do conflito na sala de imigração é mais do que previsível em pouco tempo de projeção, principalmente (mas não só) pela narrativa paralela que mostra um dos personagens, tempos depois, no Brasil. O que torna bastante questionável esse recurso de alternar cenas de dois tempos diversos em dois países diferentes.
Tão lamentável quanto a característica pleonástica do roteiro é a criação de personagens estereotipados onde não faltam “a argentina trambiqueira”, “a cubana legal” e “a prostituta boa-gente” (aliás, com uma trajetória do Nordeste ao Rio bastante inverossímil para o lugar onde mora e para o inglês que fala e compreende, bastante satisfatório). Para não tocar na vilania dos americanos do Departamento de Imigração que resolvem se divertir zoando mais do que desrespeitosamente os latino-americanos, independentemente de terem vistos e situações regulares para entrar nos EUA. O chefe desta seção chega a receber o nome ‘Marshall’ - que com uma letra “L” a menos equivaleria a “delegado” ou “xerife” (marshal). Os outros colegas dele, mais jovens, que também aderem à intimidação e humilhação dos que chegam da América do Sul ou Central, são uma "afro-americana" e um de sobrenome ´Estevez´, talvez para mostrar casos de "identificação com o agressor" quando se ganha um pequeno poder, só que com a sutileza de um paralelepípido.
O elogio aos atores vem até mesmo do fato de terem que viver personagens tão caricaturais e diálogos tão ostensivamente demonstrativos daquilo que o filme quer comunicar, tornando-se excessivo. Acaba havendo uma dissociação gritante entre os bons desempenhos, o ótimo uso da câmera com escolha pertinente dos planos – de um lado – e o esquematismo do roteiro para o que pode ter sido uma boa idéia inicial.
Parece que o roteiro - e mesmo a boa direção que se submeteu a ele - não acreditam na capacidade da narrativa cinematográfica como meio de comunicação e que seria necessário o uso de diálogos tautológicos para uma plateia supostamente carente de que tudo lhe fosse explicado minuciosamente.
# OLHOS AZUIS (MOVIE.)
País, 2009
Direção: JOSÉ JOFFILY
Roteiro: PAULO HALM e MELANIE DIMANTAS.
Argumento JOSÉ JOFFILY, JORGE DURAN, PAULO HALM.
Fotografia: NONATO ESTRELA
Edição: PEDRO BRONZ
Direção de Arte: CLÁUDIO AMARAL PEIXOTO
Música: JACQUES MORELENBAUM
Elenco: DAVID RASCHE, CRISTINA LAGO, IRANDHIR SANTOS, FRANK GRILLO, ERICA GIMPEL
Duração: 111 minutos
Site oficial: http://www.olhosazuisfilme.com.br