Desde que despontou no circuito, As Melhores Coisas do Mundo vem sendo elogiado, principalmente pela atuação do elenco que conseguiu injetar surpreendente naturalidade aos diálogos. De fato, boa parte dos méritos do filme de Laís Bodanzky deve ser creditada ao preparador Sergio Penna, que extraiu ótimos resultados dos atores, em especial de Francisco Miguez. Seguindo uma corrente bastante valorizada pelo cinema brasileiro da última década, Bodanzky e Penna enveredaram pelo registro da não-atuação: o elenco não parece dizer falas previamente decoradas.
A partir das transformações contundentes atravessadas por uma família – separação dos pais, um filho envolvido numa história de amor passional, outro tropeçando na busca por uma namorada –, a diretora procura documentar o universo adolescente ao reproduzir o dia-a-dia numa escola. Em destaque, a perda da noção de espaço privado. A intimidade quase sempre vaza na rede. O resultado agradou bastante ao júri da última edição do Festival de Recife, que não economizou na quantidade de prêmios.
Mas As Melhores Coisas do Mundo não bate na tela destituído de problemas. E eles se devem ao roteiro, assinado por Luiz Bolognesi. O desenvolvimento de determinados personagens e situações carece de refinamento. Soa batido, por exemplo, o encaminhamento da figura do namorado do pai como herói que salva a família de uma tragédia maior gerando clímax um tanto previsível. A mãe, por sua vez, surge excessivamente ingênua, como se vivesse num mundo ideal: comenta com os pais dos filhos que seu ex-marido pediu o divórcio após ter começado a namorar um aluno sem imaginar que a história logo se espalharia pelo colégio inteiro.
O libertário professor de Caio Blat também parece como uma variação do Robin Williams de Sociedade dos Poetas Mortos , de Peter Weir, além de ter seu perfil reforçado na oposição com o professor boçal que o substitui numa cena do filme. No saldo, os méritos de As Melhores Coisas do Mundo são inegáveis. Mas um pouco mais de sutileza faria um bem danado ao filme.
# AS MELHORES COISAS DO MUNDO
Brasil, 2009
Direção: LAÍS BODANZKY
Roteiro: LUIZ BOLOGNESI, baseado em livros de GILBERTO DIMENSTEIN e HELOÍSA PRIETO
Produção: CAIO GULLANE, FABIANO GULLANE, DEBORA IVANOV, GABRIEL LACERDA
Fotografia: MAURO PINHEIRO JR.
Direção de Arte: CÁSSIO AMARANTE
Figurino: CAIA GUIMARÃES
Edição: DANIEL REZENDE
Elenco: FRANCISCO MIGUEZ, DENISE FRAGA, ZECARLOS MACHADO
Duração: 107 minutos