Críticas


AO SUL DA FRONTEIRA

De: OLIVER STONE
04.06.2010
Por Marcelo Janot
“CHÁVEZ” DE BRAÇO NA MÍDIA AMERICANA

A vocação para a polêmica é uma constante na carreira do diretor Oliver Stone desde 1986, quando ele dirigiu o thriller Salvador e não poupou críticas ao governo americano por dar suporte armamentista à ditadura militar em El Salvador. Desde então, filmes como Platoon, Nascido em 4 de Julho, JFK, Nixon, Assassinos por Natureza, entre outros, cutucaram o conservadorismo americano e lhe renderam prêmios no Oscar e em festivais como Berlim e Veneza.



A virada do milênio, a eleição de George W. Bush e a tragédia de 11 de Setembro afetaram a carreira de Stone, mas não suas convicções políticas. Depois de um longo intervalo sem filmar, em 2003 ele passou alguns dias em Cuba, na companhia de Fidel Castro, que virou o tema do documentário Comandante. O filme dava voz a Fidel sem contestá-lo, humanizando-o de uma maneira que incomodou os americanos. A rede de TV HBO, que havia comprado os direitos de exibição, foi pressionada e não o transmitiu.



Até que em 2006 Stone cometeu As Torres Gêmeas, dramalhão recheado de surtos patrióticos ambientado nos escombros do World Trade Center. A cinebiografia de Bush W. (2008), confirmou que o diretor agora preferia fugir da polêmica. Era como se ele quisesse dizer que Bush não era nem bom nem mau, apenas um sujeito patético e despreparado que foi parar na presidência dos EUA. A opção por esta neutralidade não deixava de ser uma posição política – a do conformismo ideológico, evitando o confronto.



Parecia que o desejo de Stone de mostrar aos americanos uma realidade política latino-americana diferente daquela veiculada pelas TVs locais havia arrefecido. Até que ele se encantou com a figura do presidente venezuelano Hugo Chávez, cuja postura teria inspirado as novas lideranças de esquerda na América do Sul. Assim surgiu o documentário Ao Sul da Fronteira.



Desde o início fica claro que o alvo do diretor é a mídia conservadora norte-americana. Imagens de um telejornal da Fox News alardeiam que Chávez é viciado em drogas. O motivo: “ele tem o hábito de mascar cacau”. Os próprios apresentadores estranham a bizarrice e, meio constrangidos, em tom de deboche, corrigem a informação dizendo que é coca, e não cacau. Em outra cena de arquivo de noticiário de TV, Michael Moore aparece questionando um jornalista da CNN a respeito da passividade da emissora na cobertura da guerra do Iraque.



A influência do estilo consagrado por Moore é notória, mas, ao desembarcar na Venezuela, Stone está mais interessado em ouvir Chávez do que em tentar surpreende-lo com alguma pergunta desconcertante. E o presidente não se priva de auto-elogios, relatando sua trajetória desde a frustrada tentativa de golpe de estado de 1992, enumerando suas façanhas políticas, econômicas e sociais.



Oliver Stone não tem a preocupação jornalística de ouvir o outro lado e relatar as mazelas do governo de Chávez, assim como as dos outros países sul-americanos (inclusive o Brasil de Lula), que aparecem muito superficialmente no filme apenas para endossar a tese de uma América Latina independente sob a liderança de Chávez. Isso deve incomodar aos detratores desses governos. De qualquer forma, é admirável o esforço de um diretor de prestígio em Hollywood para mostrar aos americanos, mesmo sem o talento e o punch de Michael Moore, que falta seriedade e ética a boa parte da mídia de seu país na maneira como olham para os vizinhos do Sul.



# AO SUL DA FRONTEIRA (SOUTH OF THE BORDER)

EUA, 2009

Direção: OLIVER STONE

Duração: 102 min.

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