O Capitão Nascimento de Tropa de Elite provocou meio mundo ao defender a teoria de que os fins justificam os meios. Para fazer justiça, não hesitou em praticar tortura no primeiro filme de José Padilha. Nesse segundo exemplar, sua construção polêmica foi aliviada.
Nascimento até ressurge munido de postura reacionária: afirma, logo no início, que os presos deveriam se exterminar uns aos outros dentro da cadeia; diz que “para o povo, bandido bom é bandido morto”; e debocha dos que teorizam sobre a violência e buscam um diálogo direto com os criminosos, a exemplo do Fraga, militante de direitos humanos, interpretado por Irandhir Santos, casado com sua ex-mulher e influência decisiva na vida de seu filho.
Mas, em Tropa de Elite 2 , Nascimento mais diverte e eletriza do que incomoda. O espectador provavelmente se sentirá mais à vontade para se colocar ao lado dele. Determinado homem de ação, é quase elevado ao posto de herói, com direito, inclusive, a um discurso, ainda que não exatamente redentor ou edificante, no tribunal, marca de muitas produções americanas.
Há outra questão – também presente na produção anterior – que retorna aqui. Se Nascimento simboliza a figura daquele que não negocia, não se pode dizer o mesmo sobre os filmes de Padilha, que propõem ao público uma relação de mão-dupla: procuram suscitar uma tomada de consciência a partir de um registro das relações promíscuas entre policiais e bandidos, e, ao mesmo tempo, provocar alienação através da filiação à gramática do thriller. Um bom exemplo pode ser encontrado nas sequências de batalha no Tanque, em Jacarepaguá.
Restrições à parte, não há como negar competência a José Padilha, que, dessa vez, mira nas milícias (o nome Rio das Rochas evoca, claro, Rio das Pedras). Apesar da insistência em estruturar o roteiro em cima de uma narração constante de Nascimento – dedicado a entender o sistema para lutar contra ele (“o inimigo agora é outro”, diz o subtítulo) –, Tropa de Elite 2 corre fluente, potencializado pelo brilho de Wagner Moura, em registro adequadamente contido.
# TROPA DE ELITE 2 – O INIMIGO AGORA É OUTRO
Brasil, 2010
Direção: JOSÉ PADILHA
Roteiro: JOSÉ PADILHA, BRÁULIO MONTOVANI
Produção: JOSÉ PADILHA, MARCOS PRADO
Direção de Fotografia: LULA CARVALHO
Direção de Arte: TIAGO MARQUES TEIXEIRA
Figurinos: CLAUDIA KOPKE
Montagem: DANIEL REZENDE
Trilha Sonora: PEDRO BROMFMAN
Elenco: WAGNER MOURA, IRANDHIR SANTOS, ANDRÉ RAMIRO
Duração: 116 minutos