Críticas


EU MATEI MINHA MÃE

De: XAVIER DOLAN
Com: ANNE DORVAL, XAVIER DOLAN, FRANÇOIS ARNAUD, SUZANNE CLÉMENT
20.10.2010
Por Luiz Fernando Gallego
ÉDIPO INVERTIDO

EU MATEI MINHA MÃE ( J’ai tué ma mère)



Texto escrito quando da exibição do filme no Festival do Rio em 24/09/2009



Hubert, 16 anos, surge nas telas como um reclamão histérico, gritão e autocentrado. Suas queixas se dirigem quase que exclusivamente à mãe com quem mora e que ele diz odiar. No decorrer do filme, ela vai se mostrar bem pouco hábil em lidar com um adolescente tão “aborrecente” e com particularidades que o tornam mais “difícil” ainda. Mas ele mesmo comenta que seus colegas de mesma idade acham as mães chatas, mas nenhum “odeia” tanto a mãe como ele – que a culpa de tudo e de mais alguma coisa.



Apesar de ser quase simplória no modo de lidar com Hubert e de ter características de mediocridade e cafonice que o irritam (de modo exacerbado), também vai ficando claro que ela se esforçou dentro de suas limitações, privilegiando a “correção” e dedicação pragmática para suprir as necessidades materiais de uma dupla mãe-e-filho sem pai participante (o pai deixou a família quando o garoto tinha 4 anos).



Em algum momento o rapazola vai dizer que é impossível amá-la e é impossível deixar de amá-la. A ambivalência adolescente, mesclando rompantes de fúria com tentativas de aproximação, é bem representada na construção do personagem. Embora a narrativa cinematográfica oscile entre o rotineiro e alguns tiques espertinhos, típicos de primeiro filme, o roteiro equilibra razoavelmente as razões de cada um em relação às falhas do outro.



Nas tentativas de dar algumas pinceladas de humor ao entremear cenas rapidíssimas que comentam a ação ou que refletem a visão de Hubert (algumas questionáveis), o filme consegue um retrato bem verossímil de situações familiares em que todos têm razão e – claro que - ninguém tem (toda) a razão (como cada um crê sobre seus motivos). O que predomina é a incompreensão solipsista.



No cômputo geral, o filme não consegue evitar a impressão de ser especialmente interessante para terapeutas de família, quase uma “case story” - ainda que deva ser louvada a ausência de maniqueísmo e de soluções fáceis no desenvolvimento da história. Os atores Anne Dorval (a mãe) e o próprio diretor-roteirista Xavier Dolan (20 anos passando muito bem pelos 16 do personagem) ajudam bastante por não derraparem na caricatura fácil, evitando que seus personagens virem “tipos” sem nenhuma complexidade.



# EU MATEI MINHA MÃE (J’AI TUÉ MA MÈRE)

Canadá, 2009

Direção E Roteiro: XAVIER DOLAN

Fotografia: STÉPHANIE ANNE WEBER BIRON

Edição: HÉLÈNE GIRAD

Música: NICHOLAS SAVARD-L’HERBIER

Elenco: ANNE DORVAL, XAVIER DOLAN, FRANÇOIS ARNAUD, SUZANNE CLÉMENT, PATRICIA TUSLANE

Duração: 96 minutos

Site oficial::http://www.ikilledmymother.com

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