Texto revisado a partir do que foi publicado quando da exibição do filme no Festival do Rio 2010
O ator Ben Affleck, ao dirigir seu segundo longa-metragem, mais do que confirmar a boa impressão deixada por sua primeira incursão atrás das câmeras (Gone Baby Gone, de 2007, lançado diretamente em DVD no Brasil como Medo da Verdade), demonstra ter progredido como cineasta, apesar do enredo bastante explorado: marginal quer deixar o crime, mas tem dívida de gratidão com amigo violento que insiste em continuar roubando, sendo o romance com uma ex-vítima o fator responsável pela tentativa de abandonar os assaltos por parte deste anti-herói.
Sem tentar inventar a roda e muito menos macaquear o estilo de filme noir como já virou cacoete, Affleck consegue manter o interesse do espectador no desenrolar dos lances - ainda que mais ou menos - previsíveis do roteiro. Nem tudo prima pela verossimilhança, mas a habilidade em conduzir a narrativa faz com que só se vá questionar alguns detalhes depois de encerrada a sessão: para um projeto de “cinemão” que pretende entreter, há que se reconhecer que a coisa foi feita com competência afiada.
Ator que já recebeu vários “prêmios” de “pior desempenho” mas surpreendeu meio mundo ao merecer a "Taça Volpi" de melhor ator em Veneza, 2006, pelo filme Hollywoodland - Bastidores da Fama, quando reviveu George Reeves, esquecido astro da TV americana que encarnava o ‘Superman’ nos anos 1950, Affleck teve algum reconhecimento pelo primeiro longa-metragem que dirigiu no ano seguinte do destaque em Veneza, adaptando o romance de Dennis Lehane, Gone Baby Gone (traduzido no Brasil com o mesmo título em inglês).
Talvez a comparação com a transposição para as telas de outra obra do mesmo autor (Sobre Meninos e Lobos, de Clint Eastwood) tenha deixado Medo da Verdade em desvantagem: a trama bem complicada do livro de Lehane ficara muito condensada em 114 minutos, e a coincidência do tema com o desaparecimento de uma criança em um caso real ocorrido em Portugal com enorme repercussão adiou o lançamento do filme por seis meses nos EUA. Não tendo sido exibido comercialmente por aqui, passou desapercebido no Festival do Rio de 2007.
Curiosamente, também ambientada em Boston, a trama mais banal deste The Town (título original) acaba servindo bem para que o novo exercício de direção de Affleck seja realizado com eficiência. Com ajuda de bons atores como Rebecca Hall (de Vicky Cristina Barcelona) e um Jeremy Henner em composição bem diferente de como esteve em Guerra ao Terror.
A fotografia de Robert Elswit (Boa Noite e Boa Sorte, Sangue Negro), o bom uso da trilha sonora, e a edição eficaz de Dylan Tichenor (Sangue Negro) colaboram para o resultado final bem satisfatório no terreno de filme de gênero criminal com assaltos dramáticos a bancos e uma derivação romântica.
Sem chegar a prejudicar seu filme, apenas a interpretação do próprio Ben Affleck no papel central se mostra pouco modulada, sugerindo que, se como ator ele pode ser algo limitado, ainda poderá vir a merecer mais reconhecimento como cineasta.
# ATRAÇÃO PERIGOSA (THE TOWN)
EUA, 2010
Direção: BEN AFFLECK
Roteiro: PETER CRAIG, BEN AFFLECK e AARON STOCKARD baseado em livro de CHUCK HOGAN.
Fotografia: ROBERT ELSWIT
Edição: DYLAN TICHENOR
Direção de Arte: PETER BORCK
Música: DAVID BUCKLEY e HARRY GREGSON-WILLIAMS
Elenco: BEN AFFLECK, REBECCA HALL, JEREMY RENNER, BLAKE LIVELY, PETE POSTLETHWAIT, CHRIS COOPER, SLAINE, OWEN BURKE.
Duração: 125 minutos
Site oficial: http://thetownmovie.warnerbros.com/