O roteiro da diretora Lisa Cholodenko em quase todo o seu desenvolvimento parece estar aberto, com humor, para a diversidade sexual dos seres humanos: tanto para as preferências homossexuais como para as inclinações heterossexuais; mas surpreende em seu desfecho, ao incorrer em excesso de proselitismo quando privilegia uma dessas escolhas sexuais em detrimento da outra. Desfaz, assim, aos 45 minutos do segundo tempo, a impressão mais “democrática” e não-partidária que o enredo parecia sustentar, ao longo da maior parte do filme, para com as possibilidades sexuais
Ver mais uma vez Annette Bening brilhar (mais ainda do que no – e apesar de ser um - dramalhão de Rodrigo Garcia recentemente exibido por aqui, Destinos Ligados) em uma composição de personagem minuciosa pode até justificar ver o filme, ainda mais que todo o elenco se mostra afiado, com o luxo de ter Annette ao lado de Julianne Moore (pela primeira vez enfrentando nas mesmas cenas uma atriz tão extraordinária como ela é; em As Horas ela praticamente não dialogava com Meryl Streep), formando uma dupla de mães gays de longa convivência.
A óbvia intenção de mostrar uma família de mãe e mãe com filho e filha, muito parecida com uma família de pai e mãe com filhos perpassa todo o filme (não fosse o título original dizer que tudo vai 100% com as crianças), sendo que o conflito vai advir da curiosidade do filho em encontrar seu pai biológico (um doador de esperma). Tudo segue o figurino bonitinho pretendido: a filha, antes menos interessada em conhecer o doador, encanta-se com seu pai; e o rapaz, bem menos. Ou seja, as atrações e/ou rivalidades edípicas se sustentam com normalidade, mesmo em uma família de duas mães e pai ausente durante 18 anos. Já podia ser “propaganda gay”, mas vai evoluindo simpaticamente em conflitos menores e maiores com a entrada em cena de Mark Ruffalo no papel do pai até então ausente.
Outro esquematismo já se fazia presente no fato de tanto a filha (Mia Wasikowska) como seu irmão terem, respectivamente, uma amiga e um amigo bem menos interessantes como pessoas do que eles são (uns encantos de filhos, super bem-resolvidos). Mas o talento dos atores e um formato de gênero de comédia familiar americana vai sendo levado conforme as intenções. Só não dava para perceber que a diretora-roteirista pretenderia, mais do que deixar em aberto, “punir” um dos personagens por uma variação sexual adúltera, tal como em qualquer draminha moralista, apenas invertendo os sinais tradicionais onde “menos” passa a ser “mais” e vice-versa. Ou seja, os preconceitos permanecem, apenas trocando de campo, mais do que "justificando" o Prêmio Gay ("Teddy") no Festival de Berlim.
# MINHAS MÃES E MEU PAI (THE KIDS ARE ALL RIGHT)
EUA, 2010
Direção: LISA CHOLODENKO
Roteiro: LISA CHOLODENKO e STUART BLUMBERG
Fotografia: IGOR JADUE-LILLO
Edição: JEFFREY M. WERNER
Direção de Arte: JAMES CONNELLY
Música: Carter Burwell, Nathan Larson e Craig Wedren
Elenco: JULIANNE MOORE, ANNETTE BENING, MARK RUFFALO, MIA WASIKOWSKA, JOSH HUTCHERSON
Duração: 106 minutos
Site oficial: http://filminfocus.com/film/the_kids_are_all_right