Críticas


TETRO

De: FRANCIS FORD COPPOLA
Com: VINCENT GALLO, MARIBEL VERDÚ, ALDEN EHRENREICH, KLAUS MARIA BRANDAUER
10.12.2010
Por Luiz Fernando Gallego
FORMALISMO SEM CONSISTÊNCIA

Como na saga O Poderoso Chefão, o mais recente filme de Francis Ford Coppola é um drama-quase-tragédia familiar cuja fotografia preciosista em preto-e-branco lembra O Selvagem da Motocicleta, outro drama familiar que também tinha ênfase no relacionamento entre irmãos, como neste Tetro.



Mas tal como na tentativa anterior de Coppola, Youth without Youth (inédito comercialmente entre nós, visto apenas em duas sessões do Festival do Rio 2008 com o título Velha Juventude), o roteiro parte de uma situação instigante para se diluir em desdobramentos e bifurcações exacerbadas, restando como maior trunfo do filme a beleza das imagens, atrativo maior de Youth... (que teve o mesmo Mihai Milaimare Jr. como fotógrafo) lembrando também o formalismo sem consistência do mais antigo O Fundo do Coração que foi responsável pela quebra financeira do cineasta depois da seqüência de consagrações dos “Chefões” I e II, de A Conversação e da odisséia (em todos os sentidos) que foi Apocalypse Now.



Os dez anos sem filmar entre os anódinos Jack, de 1996, e O Homem que fazia chover (’97) se faziam pesar já em Velha Juventude sobre o qual escrevemos durante o Festival que se perdia no cruzamento de tantos caminhos e possibilidades, mas lamentavelmente se encerrava como um episódio alongado de Além da Imaginação filmado por um cineasta competente que consegue seduzir visualmente a platéia, mas não a gratifica com uma obra conseqüente e inspirada como as de seu cada vez mais distante passado.... A culpa era, em grande parte, do roteiro do próprio Coppola, inspirado na obra de Mircea Elliade - e em Tetro, novamente o roteiro (original) do próprio diretor é o principal responsável pelo naufrágio das melhores intenções (e ambições) da empreitada.



Mas a concepção cinematográfica propriamente dita também não funciona satisfatoriamente (à parte a competência artesanal do diretor e da produção): a própria opção de filmar o tempo atual em preto-e-branco e as lembranças do personagem-título a cores (em tela menor e imagem mimetizando intencionalmente as cores de antigos filmes caseiros amadores) não é nenhuma novidade, ficando como mais um recurso formalista ingênuo e já antiquado sem acrescentar pathos ao drama de ‘Tetro’, novo nome assumido pelo personagem de Vincent Gallo. Aliás, o ator não favorece a identificação da plateia, ainda mais com um personagem que se revela esquivo e mesmo antipático a maior parte do tempo, antipatia que ele encarna intensamente, sem um segundo nível de humanidade que propicie alguma empatia por mais que a gente se esforce, ou seja: o personagem fica sendo “um chato”.



O enredo vai descambar para revelações de maldades e perversões familiares no passado dos irmãos ‘Tetro’ e ‘Bennie’ deixando-nos a impressão de algo como um Nelson Rodrigues requentado - ou um dramalhão latino (influência das locações argentinas – ou por isso mesmo quis filmar na terra do tango?). Paralelamente a ação se desloca para um festival cultural na Patagônia, com uma viagem que fica entre o turístico (as geleiras são filmadas com beleza ímpar) e um clima oniróide sub-felliniano acentuado por uma personagem - que ao aparecer antes já se anunciava patética - vivida por Carmen Maura em cópia mal-ajambrada de tipos almodovarianos. O nome da figura é ‘Alone’ (sem comentários).



Salvam-se a sempre competente Maribel Verdú e o novato Alden Ehrenreich que vem sendo comparado a um novo Leo Di Caprio, sendo que o veterano Klaus Maria Brandauer não consegue impressionar em nenhum dos seus dois papéis mais episódicos e caricaturais - como de resto, acaba sendo quase todo o filme.



# TETRO (TETRO)

Argentina/Itália/Espanha/EUA, 2009

Direção e Roteiro: FRANCIS FORD COPPOLA

Fotografia: MIHAI MALAIMARE Jr.

Edição: WALTER MURCH

Direção de Arte: FRANCISCO G. CAMBERO

Música: OSVALDO GOLIJOV

Elenco: VINCENT GALLO, MARIBEL VERDÚ, ALDEN EHRENREICH, KLAUS MARIA BRANDAUER

Duração: 127 minutos

Site oficial: http://www.tetro.com

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