Críticas


CÓPIA FIEL

De: ABBAS KIAROSTAMI
Com: JULIETTE BINOCHE, WILLIAM SHIMELL
15.03.2011
Por Luiz Fernando Gallego
AMBIVALÊNCIAS E AUTOCOMPLACÊNCIA

Texto revisto a partir do que foi publicado durante o Festival do Rio 2010



Em seu primeiro filme realizado fora do Irã, Kiarostami recorre ao talento extraordinário de Juliette Binoche, peça essencial no jogo de ambivalências e pistas em aberto de seu roteiro. Partindo de uma discussão sobre o valor das cópias em relação às obras de arte originais, o filme passa para uma representação do relacionamento entre a personagem de Juliette e o do barítono inglês (estreando como ator) William Shimell: eles foram casados? São casados? Ou estão fazendo uma “cópia fiel” de uma relação desgastada? A cópia, se cópia for, é fiel ou infiel? Um “psicodrama”? Eles mudaram ou são sempre os mesmos, cópias de si-mesmos que não arredam o pé de onde estão e sempre estiveram?



Além da repetição de aspectos frequentes em tantos filmes do cineasta, tal como - dentre outros – longas conversas entre os personagens durante um percurso de automóvel, cabe questionar um certo grau de autocomplacência do diretor: o quanto esta obra é “aberta”? Aberta em excesso? Algo afetada? A indefinição intencional do que se passou – ou não – ou está se passando - ou não - entre aquele homem e aquela mulher não acaba sendo uma espécie de “saída fácil”? Um truque intelectualizado de abrir tantos caminhos sem assumir nenhum? Uma espécie de “Jogo de Cena” ficcional cujo esteio é mesmo a interpretação irretocável de Juliette Binoche, premiada no Festival de Cannes 2010 por este desempenho. Sem ela, o que seria do filme? Talvez um quebra-cabeça intelectual realizado com extrema elegância (e uma certa frieza) sobre os estágios do relacionamento conjugal.



Mas paralelamente a tanta intelectualização, não parece, por outro lado, óbvio demais levar a ação (ou os diálogos) para uma cidadezinha apresentada como “cidade dos casamentos” e enfocar um casalzinho recém-casados e outro idoso, periféricos à meia-idade dos personagens centrais?



Entre afetação e traços de banalidade, Kiarostami continuará a ser idolatrado pelos seus exegetas e a desconcertar o público com seus circunlóquios mais ou menos bem sucedidos.



# COPIA FIEL (COPIE CONFORME)

França, Itália, Irã, 2010

Direção: Abbas Kiarostami

Roteiro: Abbas Kiarostami

Fotografia: Luca Bigazzi

Edição: Bahman Kiarostami

Elenco: Juliette Binoche, William Shimell, Jean-Claude Carrière

Duração: 106 minutos



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