Críticas


MINHA VERSÃO DO AMOR, A

De: RICHARD J. LEWIS
Com: PAUL GIAMATTI, ROSAMUND PIKE, MINNIE DRIVER, DUSTIN HOFFMAN
21.04.2011
Por Luiz Fernando Gallego
UMA VERSÃO TALVEZ PÁLIDA

A Minha Versão do Amor é, em vinte anos, a sexagésima participação do ator Paul Giamatti em produções cinematográficas, incluindo aquelas feitas para a TV.



Mas a média matemática que indica três filmes por ano pode ser enganosa: em 1998 seu nome apareceu em nada menos do que 9 filmes. E depois deste Barney’s Version (título original), lançado em 2010, o ator está engajado em mais 10 realizações com lançamentos entre 2011 e 2013 (contando os filmes prontos, em rodagem ou em pós-produção).



O espectador que assiste filmes com uma certa freqüência deve reconhecer o rosto do intérprete, ainda que seja o que se pode dizer "um rosto comum". Ou por isso mesmo.



Embora haja mais do que mera sugestão de que Giamatti aceita o que quer que lhe ofereçam, “não importa o que” (sic), ainda que versátil em desempenhos e filmes de perfis variados, vem encarnando um bom número de personagens como o atual ‘Barney Pandofsky’. E desta vez, nem importa tanto que ‘Barney’ tenha estado na Itália ao lado de artistas ainda jovens em uma fase meio “porralouca”; ou tenha se transformado em um produtor de TV (de séries do tipo novelinhas de quinta categoria que emplacam anos e anos em cartaz). O que se destaca em sua vida é que ele se comporta – geralmente -como um homem mais ou menos comum, do tipo que faz um casamento com namorada nada monogâmica porque ela diz que engravidou dele (já no final dos anos 1970 !); casa-se de novo em boa dose de oportunismo com uma moça de família rica (e chatas: a moça e a família) até se acertar por alguns anos em um terceiro casamento - que a abertura do filme já denuncia que também acabou em mais uma frustração regada a charutos e álcool.



Ao mesmo tempo em que ‘Barney’ pode oferecer alguma identificação para a plateia de “homens comuns”, ele faz coisas fora do perfil de correção de um burguês tradicional, tal como se interessar por uma moça que conhece na festa de seu casamento e querer largar tudo para ficar com ela. Nesse sentido, o enredo poderia expor as fantasias menos tradicionais dos “homens comuns”, através de um personagem que passasse ao ato quando permitisse que seus desejos sobrepujassem sua vontade de escolha racional conformada a condutas mais caretas.



Mas a mescla de atitudes dentro do formato burguês com rompantes que extrapolam as barreiras da repressão social acaba ficando em um meio-termo nem sempre tão interessante para os 123 minutos de duração do filme que parece querer juntar fatos do romance original em que foi baseado sem, entretanto, conseguir justificar todos os episódios escolhidos, alguns apenas “marcando presença”.



Não lemos o livro em que este filme se baseou (lançado no Brasil pela Cia. Das Letras em 2008 com título fiel ao original: “A Versão de Barney”). Seu autor, Mordecai Richler, falecido em 2001, é bastante considerado em seu país de origem, Canadá. Além de ter sido indicado a um Oscar em 1978 pelo roteiro adaptado de outro livro seu, atuou como roteirista em vários filmes, um deles levado às telas duas vezes: Adivinhe quem vem para roubar, de Ted Kotcheff em 1977, com Jane Fonda; e em 2005 refilmado com Jim Carrey, “As loucuras de Dick & Jane.



É possível supor que o livro sobre Barney seja de alguma forma autobiográfico, talvez caricaturando o perfil do escritor – como de hábito no humor judaico -, mas as quase 600 páginas do livro devem ter ficado muito comprimidas nas duas horas do filme que acaba preso a duas linhas centrais de eventos: os casamentos do personagem por um lado - e, por outro, o desaparecimento de um amigo dos tempos italianos após a arma de Barney acusar dois disparos. Sua “versão” do título original é que não atirou no amigo, mas isso fica como uma linha que ocupa menos tempo do filme em relação à “versão do amor” conforme o estúpido título nacional que não se justifica pelo perfil nem tão amoroso do personagem.



Nem tão pertinente como retrato de uma vida comum com seus laivos de pequenas ou médias bizarrices, nem tão “diferente” para despertar interesse, o filme dirigido com (apenas) correção (e sem paixão) pelo cineasta quase exclusivamente de produções televisivas, Richard J. Lewis, pode interessar apenas pelo trio de atores centrais: Rosamund Pike encarna com delicadeza sua personagem, Dustin Hoffman faz um simpático grosseirão, enquanto Paul Giamatti, onipresente em todas as cenas justifica plenamente o “Globo de Ouro” recebido por este filme. A geralmente competente Minnie Driver não conseguiu fugir da caricatura de moça judia como uma sub-Barbra Streisand. Em pequenas pontas, cineastas canadenses famosos como Aton Egoyan, David Cronenberg, Ted Kotcheff e Denys Arcand parecem abençoar a empreitada que não encanta tanto quanto parece ter pretendido.



# A MINHA VERSÃO DO AMOR (BARNEY’S VERSION)

Canadá/Itália, 2010

Direção: RICHARD J. LEWIS

Roteiro: MICHAEL KONYVES, baseado no romance de Mordecai Richler

Fotografia: GUY DUFAUX

Edição: SUSAN SHIPTON

Direção de Arte: MICHELE LALIBERTE

Música: PASQUALE CATALANO

Elenco: PAUL GIAMATTI, ROSAMUND PIKE, MINNIE DRIVER, DUSTIN HOFFMAN

Duração: 132 minutos

Site oficial: http://www.barneysversionthemovie.com/



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