Lançado no fim-de-semana do dia dos namorados no Rio, Blue Valentine ganhou no Brasil um título idiota: Namorados para sempre. No original, entretanto, a tristeza deste relacionamento é anunciada logo de saída. O enganoso título nacional pode frustrar o espectador em busca de um filmezinho romântico que dá de cara com cenas de um casal em desencontro explícito no presente, ainda que romântica e idealisticamente apaixonados nas seqüências em flash-back (o que pode acentuar a amargura frente ao rumo que a relação tomou).
Mas o público que se ligar nessa espécie de versão com as mesmas idas e vindas ao passado e presente de um casal, menos enfeitada (e sem a estrada) do antigo Two for the Road (Um Caminho para Dois, de Stanley Donen, 1967) pode admirar as interpretações magníficas da dupla Michelle Williams e Ryan Gosling, dois dos onze produtores do filme - que deve atraído os atores por poder funcionar como veículo para seus talentos.
Ambos foram indicados a diversos prêmios: entre outros, concorreram ao Globo de Ouro e – apenas ela - ao Oscar. Poderia ser o contrário, pois a interpretação dele é das mais brilhantes dos últimos tempos (sem ser do tipo “vejam como estou trabalhando bem”). O que não é surpresa para quem o viu em A Garota Ideal (2007). No Festival de Cannes deste ano o ator também teve destacada sua participação em Drive.
O roteiro de Blue Valentine pode não ser dos mais inventivos, seguindo a fórmula mencionada de alternar o tempo atual com o passado de um casal; e a direção é correta na opção de privilegiar de modo intimista os personagens (e os atores, em planos fechados sobre seus rostos) sem detalhar como e porque mudaram tanto. Os diálogos soltos aqui e ali, assim como situações expostas visualmente é que vão indicar o que não deu certo – ou talvez nunca pudesse ter dado. Se escutamos a queixa da esposa sobre como e quanto o marido bebe, a ligação dela com a bebida é mais informada pelo que se vê, tal como na cena em que ela vai ao mercado antes de uma ida ao motel como tentativa (dele) no sentido de restaurar um clima amoroso que já lhes escorreu pelos dedos.
O diretor e roteirista Derek Cianfrance desenvolveu este projeto ao longo de 12 anos, o que pode ser percebido pela elaboração cuidadosa de certos detalhamentos que informam sobre o enredo e os personagens sem o didatismo habitual do cinema americano. Por exemplo, o excesso de adesão ao álcool não surge como tema central evidente (como em filmes que fizeram do assunto seu foco básico) mas está lá – só que inserido na estrutura emocional dos personagens: ele pode ser muito gente boa, mas sua gentileza e ternura não deixam de estar ligadas a uma postura mais subserviente do que a da esposa, sendo ele menos ambicioso (ou mesmo mais simples). Também há pinceladas (sem obviedade) sobre a mocinha que cuidava tão bem da avó idosa em cadeira de rodas ou no retiro de idosos, mal suportando a vida familiar com seus pais e disponível para tantos encontros sexuais com variados parceiros desde bem jovem.
Sem proselitismo, o retrato realista pretendido acaba sendo bem sucedido em um filme que, sem deixar de ser triste, pode gratificar pela correção e desenvolvimento satisfatório do que quis narrar, naturalmente turbinado pelas interpretações sintonizadas do casal de atores (e cabe mencionar ainda a menina de cinco anos, Faith Wladyka, que faz a filha do casal e é um achado).
#NAMORADOS PARA SEMPRE (BLUE VALENTINE)
EUA, 2010
Direção: DEREK CIANFRANCE
Roteiro: DEREK CIANFRANCE, JOEY CURTIS, CAMI DELAVIGNE.
Fotografia: ANDRIJ PAREKH
Edição: JIM HELTON e RON PATANE
Direção de Arte: CHRIS POTTER
Música: GRIZZLY BEAR
Elenco: RYAN GOSLING, MICHELLE WILLIAMS, FAITH WLADYKA.
Duração: 114 minutos
Site oficial: http://www.bluevalentinemovie.com/